"Dançar é muito mais aventurar-se na grande viagem do movimento que é a vida". A frase sintetiza o pensamento de Klauss Vianna (1928-1992) como bailarino, coreógrafo, professor de dança e de teatro, mas, sobretudo, como um homem apaixonado pela dança. Referência nesse universo, ele foi pioneiro no estudo do movimento e na conceituação de um trabalho corporal capaz de exprimir o universo interior de dançarinos e atores. Em "A Dança" (Summus Editorial), Klauss Vianna, em colaboração com Marco Antônio de Carvalho, faz um depoimento contundente sobre a atividade que exerceu por décadas. A sua morte, em 1995, não tirou o brilho dessa obra, referência para os amantes da dança e para quem busca o autoconhecimento.

"Klauss buscava a todo momento suprir algumas necessidades do ensino da dança. Ele dizia que para dançar era fundamental conhecer o próprio corpo", afirma Neide Neves, nora do coreógrafo, que assina o prefácio do livro. Em A "Dança", Klauss contesta a arte ensinada nas escolas oficiais, onde "não existem professores e sim funcionários públicos da dança". Ele descreve como fez para quebrar esse ciclo e introduzir formas novas de interpretação corporal. Para ele, a técnica, além de estética, precisa ter um sentido utilitário, claro e objetivo.

O coreógrafo dizia que "um corpo inteligente é um corpo que consegue adaptar-se aos mais diversos estímulos e necessidades, ao mesmo tempo que não se prende a nenhuma receita ou fórmula preestabelecida, orientando-se pelas mais diferentes emoções e pela percepção consciente dessas sensações". Esse conceito aparece fartamente nas fotos dos bailarinos e atores, que ilustram essa terceira edição do livro. Para Neide Neves, a seleção de fotos "dá uma leitura do desenvolvimento do trabalho dele ao longo do tempo".

Na primeira parte do livro, Klauss escreve sobre as aulas com Carlos Leite, primeiro professor de dança, em Belo Horizonte, e sua convivência com personalidades como Guignard, Amilcar de Castro, Ceschiatti. Em seguida, expõe sua filosofia e como levou suas observações de movimentos para a dança. Essas duas partes - a "Vida" e a "Técnica" - são precedidas por uma justificativa do próprio Klauss e por uma introdução de Luis Pellegrini, jornalista e escritor, que além de amigo, foi seu aluno por muitos anos. Ao final, o artigo da jornalista e crítica de arte Ana Francisca Ponzio, que sempre acompanhou seu trabalho em São Paulo.

De maneira linear, ele narra o início de sua obsessão pelos movimentos do corpo. Pés, mãos, cabeça, olhos, boca, nariz. Tudo o que tivesse expressão merecia interesse do autor que, fascinado pela "Tragédia Burguesa", de Octávio, e pela "Crônica da Casa Assassinada", de Lúcio, começou a se interessar por teatro.

O livro traz ainda o relato sobre "A Ópera dos Três Vinténs", de Bertolt Brechet. O ano era 1968 e a montagem, que tinha na direção José Renato e trazia atores como Marília Pêra, Oswaldo Loureiro e José Wilker, em início de carreira, mudou sua vida. O artista passou a ser considerado o "mestre da expressão corporal". No ano seguinte, Zé Celso Martinez Corrêa e Flávio Império o convidaram para fazer "Roda Viva", de Chico Buarque de Hollanda.

Sem perder o estilo, Klauss expõe ainda momentos difíceis pelos quais passou. Um deles motivado pela insensatez de Jânio Quadros. Em 1987, o então prefeito da cidade de São Paulo proibiu a entrada de homossexuais em uma escola onde estavam sendo ministradas aulas de dança. Inconformado com a atitude, Klauss não se calou e, à noite, ao voltar para casa, foi agredido violentamente e chegou a ser hospitalizado.

Na apresentação, a professora e coreógrafa Angel Viana, viúva de Klauss, define assim a obra: "Klauss avançou adentrando caminhos diversos, em épocas distintas, permeadas de contradições. Ele deixou pegadas para seguidores, que poderão encontrar neste livro uma compreensão do corpo".

Livro: A Dança
Autor: Klauss Vianna
Colaborador: Marco Antônio de Carvalho
Editora: Summus Editorial
Preço: R$ 29,70
Páginas: 160
Atendimento ao Consumidor: (0**11)-3865-9890