Ao entrarem nas creches com meses de vida, crianças ainda com poucas defesas orgânicas ficam expostas a uma overdose de vírus e bactérias e costumam desenvolver doenças, que podem ser sérias. Coordenadora da Pediatra do Hospital Quinta D’Or defende extensão da licença-maternidade de quatro meses para dois anos. A entrada dos bebês de berço nas creches é um problema para os pediatras, seja nas emergências ou nos consultórios médicos. "Atendemos um número expressivo de crianças que entram nas creches muito cedo e começam a apresentar uma doença atrás da outra", diz a Drª Maria Clara Barbosa, coordenadora da Pediatria do Hospital Quinta D’Or, no Rio de Janeiro. Segundo a médica, por causa da licença-maternidade de apenas quatro meses e das pressões para que a mulher contribua com o orçamento doméstico, os bebês são deixados cada vez mais cedo em creches, com quatro, cinco ou seis meses de vida. Quanto mais cedo entra na creche, maior a probabilidade de a criança contrair e desenvolver doenças, e em geral, nos bebês mais novinhos, elas costumam ser mais sérias. "Organismo mais novo tem menos defesas, menos anticorpos", explica a pediatra. Para ela, existem aspectos orgânicos e emocionais que envolvem a entrada de um bebê na creche. "A creche é um local que reúne crianças e adultos estranhos, que concentram um exército de novos vírus e bactérias. As defesas orgânicas do bebê não estão suficientemente amadurecidas para enfrentar esta overdose de microorganismos", diz. Há, ainda, um aspecto psicológico que acaba influenciando a parte orgânica. Dos seis meses aos dois anos de idade, aproximadamente, a criança passa pela chamada fase de ansiedade de separação. "É o processo de individuação, em que ela começa a se reconhecer como pessoa e a identificar os outros. Nesta fase, a criança tem que ser afastada gradativamente e por pouco tempo da mãe. Ela deve ficar tranqüila ao sentir que a mãe está deixando-a sozinha, mas volta logo", conta a Drª Maria Clara. Segundo ela, quando entra na creche muito cedo, a criança pode ter uma ansiedade de separação mais prolongada e difícil. "Até hoje ainda resiste na cabeça de muitos pais o velho Mito da Socialização Precoce, ou seja, a criança que entra na creche cedo tenderia a ser menos mimada e mais social. Isto é uma grande bobagem, porque a criança de berço quase não interage e prefere brincar sozinha. Mesmo uma criança maior, de um ano, um ano e meio, ainda interage pouco com os outros. Depois dos dois anos, a creche realmente é interessante pelos estímulos que propicia à socialização. Antes disso, a criança não precisa de creche, e sim da atenção de uma pessoa que cuide dela e lhe dê carinho", afirma a pediatra. Geradora de polêmicas, a extensão da licença-maternidade é defendida pela pediatra. "O ideal é que ela fosse de dois anos, como em alguns países desenvolvidos. Em geral, com essa idade, a criança está pronta para iniciar o ciclo escolar. Porém, cada criança tem suas características e singularidades. Algumas com um ano e pouco já estão maduras para entrar na creche. Outras não", observa. De acordo com a médica, uma alternativa poderia ser a licença maternidade integral até os seis meses e parcial (meio-período de trabalho) dos seis meses aos dois anos. "Esta questão é complicada e passa por decisões políticas. Seja como for, a sociedade deve dar mais atenção ao tempo em que a mãe ou responsável fica com o bebê", finaliza. • Doenças: A maioria das doenças adquiridas pelos bebês de creche é de natureza respiratória: sinusites, otites, resfriados e gripes, que podem evoluir para pneumonias. "Os vírus são os principais vilões dos organismos com poucos meses de vida. A doença viral deprime o sistema imunológico da criança, que fica fragilizado e exposto à ação de bactérias", explica a médica. Entre os bebês de creche, também são comuns as doenças virais que "pintam o corpo", conta a Drª Maria Clara. • Amamentação: Outro fator que deve ser levado em conta na hora de se pensar em colocar o filho na creche é a amamentação. "O leite materno é a principal fonte de defesas do organismo do neném. Muitas vezes, ao entrar na creche, a criança, além de encarar uma avalanche de microorganismos, fica sem sua proteção natural proporcionada pelo leite da mãe", diz a pediatra. Até os seis meses de idade, a alimentação deve ser feita exclusivamente com o leite materno. A partir desta fase, deve-se manter o leite materno como leite de escolha para a criança e introduzir outros alimentos. "Até os seis meses, devem ser evitados outros alimentos que não o leite materno para se evitar problemas de digestão e alergias". • Pontos que devem ser considerados na escolha da creche: • Número de pessoas que trabalham como babás (atendentes) em relação ao número de bebês: "o bebê precisa de uma pessoa lhe dando atenção quase exclusiva. Deve ter a sensação de que está sendo cuidado e não de que está abandonado." • Perfil das pessoas que lidam com os bebês: "elas têm de gostar de criança, antes de qualquer coisa." • Condições de higiene e instalações do local: "é necessário que se saiba onde e como o bebê vai ficar na ausência da mãe ou responsável." • Proximidade de casa. • Creches ou babás? "Depende da família, do que for melhor para a mãe. Se tiver uma babá em quem confie plenamente, a mãe pode se sentir mais segura com esta opção e passar segurança para a criança". Fonte: Drª Maria Clara Barbosa, coordenadora da Pediatria do Hospital Quinta D’Or, que conta com emergência pediátrica 24 horas, UTI Pediátrica, Maternidade e UTI neonatal; a pediatra é médica também da UFF - Universidade Federal Fluminense e do Hospital da Lagoa.
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