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A conquista de uma vaga no mercado de trabalho não é suficiente para elevar o padrão de vida das pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Essa é uma das principais constatações do Relatório Mundial de Emprego 2004/05, divulgado nesta quarta-feira (8) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). O documento mostra que 1,4 bilhão de trabalhadores - metade do contingente mundial ocupado - vive abaixo da linha da pobreza com menos de US$ 2 por dia. De acordo com o relatório, não é apenas o desemprego que causa a pobreza, mas também a baixa produtividade e remuneração do trabalho. "É preciso melhorar a qualidade do emprego", defendeu o especialista do Departamento de Emprego da OIT, Christoph Ernst. Segundo o documento, os números referentes a 2003 que indicam o total de 2,8 bilhões de trabalhadores representa um recorde histórico. Há dez anos, eram 2,4 bilhões de pessoas ocupadas em todo o mundo. Mas o relatório indica que grande parte dos trabalhadores não conseguiu sair da situação de pobreza. Do universo de pessoas que têm algum tipo de ocupação, 550 milhões (o equivalente a cerca de 18%) sobrevivem com menos de US$ 1 por dia. Para o diretor da OIT no Brasil, Armand Pereira, a redução do número de trabalhadores pobres em todo o mundo passa pela adoção de políticas voltadas à criação de empregos e à redução do trabalho informal. De acordo com Pereira, em média, 65% dos trabalhadores brasileiros estão em algum tipo de informalidade. Ele diz que garantir o acesso desses trabalhadores ao trabalho decente é uma das maiores preocupações da OIT. "O relatório levanta questões importantes sobre a relação entre o papel das políticas de emprego e o papel de programas de renda mínima", destacou Pereira, ao salientar que a situação é pior entre as mulheres e os negros. O relatório não traz dados específicos sobre o Brasil, mas da América Latina e do Caribe como um todo, além de outras regiões. Do total de trabalhadores que vivem com menos de US$ 2 por dia, 5% estão concentrados nos países latino-americanos e no Caribe. Para a OIT, esses números indicam que os países da América Latina e do Caribe terão mais dificuldade para reduzir a pobreza pela metade até 2015, uma das principais Metas do Milênio definidas pela Organização das Nações Unidas (ONU). No que se refere à produtividade do trabalho, no entendimento de Pereira, o que mais chama a atenção é que, se comparada a algumas regiões como o oeste asiático e o sudeste asiático, "a América Latina tem uma produtividade baixa que evoluiu pouco". Enquanto a taxa de crescimento anual da produtividade foi de 0,1% nos países latino-americanos e no Caribe, entre 1993 e 2003, a do sudeste asiático, por exemplo, foi de 5,8%. O aumento dessa taxa na América Latina e no Caribe se igualou a do Oriente Médio e Norte da África, e só foi maior que o da África Subsaariana (queda de 0,2%).
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