Em Mato Grosso, as organizações femininas de todos os segmentos têm unido forças através do Fórum de Mulheres. No dia 25 de novembro, de forma articulada, elas estarão mobilizadas para manifestar-se publicamente pela não violência de gênero, na capital, Cuiabá. A mobilização começará a partir das 7h30 na avenida Mato Grosso, estando prevista logo em seguida uma passeata até a praça Alencastro, onde diversas manifestações públicas ocorrerão até as 16h. No final da tarde, está programada audiência com o governador Blairo Maggi, para entrega de documento reivindicatório. Desde 1999, o dia 25 de novembro, por designação das Nações Unidas, foi oficializado como "Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher". Vale destacar que antes da ONU ter tomado esta iniciativa, o dia já vinha sendo trabalhado por movimentos de mulheres, tendo como ponto de origem o 1° Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, em 1981. Define-se violência contra a mulher, que atualmente tem sido chamada de "violência de gênero", como todo e qualquer ato embasado em uma situação de gênero, na vida pública ou privada, que tenha como resultado dano de natureza física, sexual ou psicológica, incluindo ameaças, coerção ou a privação arbitrária da liberdade. Vários países têm implementado políticas públicas para o enfrentamento da questão. Neste ano, a I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, realizada em Brasília, foi um marco neste sentido. O Brasil, já vem há alguns anos, tentando minimizar o problema por meio da criação de delegacias de defesa da mulher, casas de apoio, casas abrigo, centros de orientação social, jurídica e psicológica, além de campanhas de informação sobre direitos e recursos existentes. Inclusive assinou e ratificou as Declarações e Plataformas de Ação, em várias conferências internacionais. A falta de dados que refletem a realidade da violência, principalmente contra a mulher, dificulta traçar um retrato completo deste problema. Num seminário que aconteceu recentemente em Mato Grosso, promovido pela Secretaria Estadual de Saúde, com apoio de diversas organizações governamentais e não governamentais, ficou claro que a questão da violência exercida contra a mulher exige um tratamento particularizado e especial. Informou-se neste evento que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, o Estado de Mato Grosso possui o terceiro maior índice de mortes violentas provocadas entre mulheres de 15 a 24 anos de idade. As causas vão desde acidentes até homicídios. Na oportunidade a Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, revelou um levantamento atualizado em que foram registrados 1.605 casos de violência. Foram abertos 94 inquéritos, destes, 75 são casos de crimes contra o costume (estupro). No ano de 2003, a delegacia registrou 2.019 boletins de ocorrências entre todos os casos de violência contra a mulher. Ocorre, porém que nem todas as vítimas denunciam seus agressores. No Brasil um grande número de mulheres vive em situação de violência física e psicológica (63% das mulheres brasileiras já sofreu algum tipo de violência) e, especialmente, a violência doméstica (75% dos casos de violência contra as mulheres e crianças acontecem no âmbito familiar). A casa, espaço da família, antes considerada lugar de proteção passa a ser um local de risco para as mulheres e crianças. O alto índice de conflitos doméstico já destruiu o mito do "lar, doce lar". As expressões mais terríveis da violência contra a mulher estão situadas na casa que já foi o espaço de maior proteção e abrigo. São Paulo, o estado mais populoso do Brasil, conseguiu um levantamento interessante de caos de violência de gênero. Através da Comissão da Mulher Advogada da OAB/SP, levantaram-se e se tabularam dados oriundos de registros de ocorrências realizados no período de janeiro a maio deste ano nas 126 Delegacias de Defesa da Mulher, sendo nove na capital e 117 no interior. Para se ter uma idéia da gravidade do problema, na capital paulista foram registrados 21.888 casos de violência específica contra o sexo feminino. E todas as cidades tiveram a soma de 132 mil ocorrências neste sentido. O movimento pela não violência contra a mulher em Cuiabá terá no dia 25 de novembro o seu ponto alto, mas antes desta data e após a mesma, ocorrerão outras ações, a exemplo de audiência pública na Assembléia Legislativa e palestras em diversos bairros da capital, priorizando-se as áreas periféricas, onde as mulheres têm menos acesso às informações e orientações de como proceder em caso de sofrerem algum tipo de violência. Alguns exemplos de violência contra a mulher Violência sexual · Relações sexuais forçadas ou que não lhe agradam; · Críticas ao desempenho sexual da mulher; · Gestos e atitudes obscenas; · Estupro e assédio sexual. Violência física e emocional · Sofrer agressões físicas, inclusive, deixando marcas, como hematomas, cortes, arranhões, manchas, fraturas; · Sofrer humilhações e ameaças diante de filhos e filhas; · Ser impedida de sair para o trabalho ou para outros lugares, e trancada em casa. Violência psicológica · Ignorar a existência da mulher e criticá-la, inclusive, através de ironias e piadas sexistas/machistas; · Humilhação e desonra, inclusive, na frente de outras pessoas; · Desrespeito pelo trabalho da mulher em casa. Violência religiosa · Considerar as mulheres como inferiores e justificar isso usando a Bíblia ou tradição religiosa; · Usar as cerimônias matrimoniais para afirmar a supremacia masculina e a submissão das mulheres; · Fazer uso de textos bíblicos específicos para desqualificar ou impedir a participação religiosa plena, negando às mulheres a potencialidade e participação no discipulado de Jesus; · Ser induzida a silenciar sobre a situação de violência e não receber acompanhamento pastoral adequado em situações de violência. Violência social · Salários diferenciados para o mesmo cargo; · Exigência de boa aparência; · Assédio sexual; · Exigência de atestado de laqueadura ou exame de gravidez; · Expor e usar o corpo da mulher como objeto nos meios de comunicação.
|