Estudo realizado com 18 nadadores mostra que a substância, ao contrário do que se pensa, não aumentou a massa muscular nos atletas. Houve ganho de peso por retenção de água no organismo.
Testes realizados com nadadores de nível competitivo, em provas curtas, mostraram que a suplementação à base de creatina não alterou o desempenho dos atletas. Ao contrário do que muitos pensam, a substância não provocou aumento de massa muscular e nem recuperou o desgaste dos exercícios. "Observamos aumento de peso por retenção de água no organismo dos atletas", conta o professor Julio Tirapegui, do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. Durante nove dias, os pesquisadores observaram o desempenho de 18 nadadores em períodos de treinamento normal e avaliaram seus desempenhos e composição corporal. Os atletas, que tinham idade média de 19 anos e peso médio de 70 quilos, foram divididos em dois grupos de controle. Num deles, os nadadores receberam uma suplementação de 20 gramas (g) diárias de creatina. No outro grupo, os atletas receberam doses de um placebo. "Nem os observadores nem os nadadores sabiam quais competidores ingeriram a substância ou o placebo. Trata-se do método duplo-cego de pesquisa", explica Tirapegui. Os nadadores foram observados em três etapas de treinamento. Em provas curtas, de 50 metros (m), de 100 m, e em três séries repetitivas de 50 m cada uma. "Com relação ao desempenho, não houve qualquer alteração. Houve sim aumento de peso", revela o professor. Para o experimento, foram selecionados atletas que nunca utilizaram a substância ou que haviam ingerido creatina há mais de seis meses. Como resultado positivo do experimento, o professor destaca que houve diminuição da concentração de lactato sangüíneo, o que significa menos fadiga. Recomendações A creatina é uma substância ergogênica que, de acordo com o senso comum, aumenta massa muscular e recupera o desgaste natural provocado por atividades físicas. "A substância está entre as mais utilizadas por atletas em geral", diz o professor. Desde a olimpíada de Barcelona, em 1992, a creatina vem sendo largamente utilizada em diversas modalidades. Tirapegui explica que ainda há algumas controvérsias quanto aos seus efeitos. "Na literatura encontramos trabalhos que garantem que a creatina pode favorecer na recuperação dos níveis de glicogênio, que seria a recuperação natural de desgastes", explica. "Porém, há os que dizem que esse processo não ocorre". O experimento possibilitou ao professor a recomendar o uso da creatina, por exemplo, em exercícios de alta intensidade. "Em casos de atividades como as observadas no experimento, ou atletas que dependam da manutenção de peso, não recomendamos a utilização da substância", receita. O professor alerta ainda que, a ingestão da creatina por longos períodos e de maneira indiscriminada pode provocar insuficiência renal. "Observamos que os atletas que usaram a substância eliminavam 50% na urina, 24 horas depois. Daí concluímos que o uso indiscriminado pode sobrecarregar o sistema renal", diz. Os experimentos com os atletas foram a base de uma dissertação de mestrado orientada por Tirapegui. O trabalho da aluna Renata Rebello Mendes, Efeitos da suplementação de creatina sobre o desempenho esportivo e a composição corporal de nadadores competitivos, foi publicado em julho deste ano no "The Journal of Nutritional Biochemistry", dos EUA.
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