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22/11/2004 - 14h50
Plantas medicinais na era da biotecnologia
Darley Miranda e Waldecy Rodrigues
 
Conhecimento tradicional e ciência se unem para gerar oportunidades de emprego e renda, melhorar a qualidade de vida e proteger a biodiversidade brasileira.

Quando a esquadra de Pedro Álvares Cabral desembarcou pela primeira vez em terras brasileiras boa parte da tripulação sofria com os males oriundos de uma longa viagem e das condições precárias de higiene a bordo. Os nativos do novo mundo ofereceram ajuda com seus conhecimentos do uso de ervas da região para o restabelecimento da saúde. Inaugurou-se um mercado que hoje movimenta US$ 600 milhões por ano no Brasil: plantas medicinais.

Demoramos 500 anos para colocar o tema em nossa agenda científica, social e econômica. E por pouco não ficamos totalmente dependentes de centros de pesquisas internacionais que estudam seriamente o potencial de nossa flora há décadas e municiaram os modernos biopiratas na obtenção de patentes internacionais de compostos ativos de plantas brasileiras. Algumas universidades brasileiras estudam os fitomedicamentos - ainda de maneira tímida e com recursos escassos.

Não se trata de assunto de ecologistas bicho-grilos ou de raizeiros que ganham uns trocados em feiras populares. Nem de um segmento "alternativo". Estamos falando de um mercado profissional e altamente rentável em todo o mundo e que, se bem explorado em nossas terras, pode oferecer oportunidades de geração de emprego e renda para comunidades isoladas do interior, gerar divisas para o País e colaborar com o aumento da qualidade de vida de todos nós.

Vamos os números: o mercado mundial de produtos farmacêuticos, cosméticos e agroquímicos soma aproximadamente US$ 400 bilhões ao ano (US$ 7 bilhões somente o farmacêutico). Princípios ativos de plantas são utilizados nesses produtos. Somente o segmento de fitoterápicos movimenta anualmente US$ 60 bilhões no globo - cerca de 20% de todo mercado farmacêutico. Isso inclui princípios ativos naturais cada vez mais usados em medicamentos alopáticos e fitomedicamentos, com 100% de plantas medicinais. Esse último segmento, de plantas medicinais, movimenta sozinho US$ 17 bilhões no mundo, com crescimento de 10% ao ano. No Brasil o mercado é de US$ 600 milhões/ano. Das 500 indústrias farmacêuticas brasileiras, 134 produzem fitoterápicos.

Além do aspecto de qualidade de vida, ao oferecer um suporte natural em tratamentos de diversas doenças, sem contra-indicações e com custo inferior ao medicamento alopático, as plantas medicinais oferecem um importante meio de fixação do homem no campo. Pode ser inserida no contexto de políticas públicas para geração de renda. A biodiversidade é um produto de alto valor agregado. Protegê-la e explorá-la de forma sustentável também ajuda no combate à biopirataria - que gera um prejuízo de US$ 1 bilhão para os cofres públicos todos os anos, sobretudo na Amazônia.

O Brasil possui 55 mil espécies de plantas. Um quarto de toda as espécies conhecidas no mundo. Desse total, 10 mil podem ser medicinais, aromáticas e úteis, segundo estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O Ceará reduziu os gastos do sistema público de saúde ao introduzir os fitoterápicos no programa Farmácias Vivas - modelo que seguiu recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), desenvolvido pela Universidade Federal do Ceará (UFCE) e que está servindo de referência para outras faculdades de Farmácia do Nordeste brasileiro. Existem diversos centros de pesquisa de no Brasil estudando os fitoterápicos, como a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ESALQ/USP, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Universidade Federal do rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal da Amazônia, Unaerp, entre outros. O Brasil, lamentavelmente, exporta plantas medicinais para serem processadas no exterior, embora tenha tecnologia para fazer essa operação internamente. A inauguração recente do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) foi um grande passo para resolver nossa defasagem tecnológica.

Projetos estaduais - Alguns Estados já estão atentos a essa tendência de unir saúde, renda e proteção ao meio ambiente na questão das plantas medicinais. Durante o Seminário de Biotecnologia, que aconteceu durante a Feira Internacional da Amazônia, em setembro, foram apresentados os projetos do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia Roraima e Tocantins. A região da Amazônia Legal possui todas as características geográficas e climáticas adequadas para explorar econômica e socialmente as plantas medicinais. O Ministério da Ciência e Tecnologia mostrou-se interessado em apoiar essas experiências dentro de uma política pública nacional.

Um dos trabalhos que se destacou no simpósio foi o projeto de criação de um Pólo de Fitoterápicos no estado do Tocantins. A idéia é unir esforços do governo, da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e a iniciativa privada. O Estado entra com políticas públicas específicas. Tocantins está criando um laboratório (Farmatins) para produzir medicamentos alopáticos e fitoterápicos para distribuição gratuita na rede pública. O governo estadual pretende ainda construir um pólo industrial de fitoterápicos para abrigar laboratórios e investidores interessados no setor, incluindo uma incubadora de empresas. A UFT criará uma plataforma tecnológica, ou seja, laboratórios de pesquisa para levantamentos botânicos e etnobotânicos, teste de princípios ativos e outros levantamentos científicos para fins terapêuticos e alimentares.

Bem amarrado, esse projeto do Tocantins protegerá a cultura local de plantas medicinais da região do Cerrado, cujo conhecimento está nas mãos de pequenas comunidades e aldeias indígenas. E oferecerá uma oportunidade de nacionalizar esse conhecimento, e conseqüentemente, o potencial econômico, que está sendo apropriado por grandes grupos farmacêuticos internacionais.

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