No campo dos direitos sexuais e reprodutivos, rever a própria política ou linha de intervenção, abrindo canais para pensar as masculinidades e maneiras de encorajar os homens a refletir sobre comportamentos sexuais e práticas sociais são recomendações encontradas em documentos recentes (European Commission Childcare Network, 1990; Mundigo, 1995; Unaids, 2000). Assim, o lugar do homem, particularmente no contexto doméstico, anteriormente negligenciado, tem emergido nas agendas das instituições internacionais e nacionais que propõem e implementam políticas públicas, como uma forma de promover a eqüidade de gênero. Essa iniciativa tem suas bases nos movimentos sociais que se estabeleceram a partir da década de 1960, no Brasil e no mundo, particularmente o movimento de mulheres e feministas e os movimentos em defesa dos direitos sexuais, principalmente de gays e lésbicas. Hoje constata-se que o envolvimento dos homens no contexto da saúde reprodutiva/saúde integral pode contribuir para melhorar os resultados de programas voltados à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, ao controle da violência de gênero e ao planejamento familiar, minimizando o sofrimento das mulheres e dos próprios homens, e garantindo o exercício pleno da cidadania, com justiça social. Progressivamente, a postura em geral adotada reflete em uma mudança de ótica: passando de uma visão de que a não-participação masculina na vida doméstica decorreria exclusivamente do machismo de cada homem, para uma outra em que procura-se compreender quais as condições criadas pela sociedade e por seus sistemas para facilitar ou dificultar o envolvimento de homens na vida doméstica e no cuidado de si e dos outros. Apesar de tais esforços, a empreitada não é simples. Para conseguir uma maior participação dos homens e a inserção dessa proposta na agenda das políticas públicas é necessário construir novas práticas, superando barreiras individuais (de homens e de mulheres), institucionais (particularmente no Setor Saúde) e culturais (que remete a uma reversão simbólica). Quando pensamos em ações voltadas aos homens, no campo da saúde em geral e da saúde sexual e reprodutiva em particular, não estamos imaginando que seja necessária a institucionalização de unidades, setores ou departamentos específicos voltados exclusivamente para a população masculina. Não se trata de criar mais um campo de trabalho, ao estilo saúde do homem, mas de unir esforços às atividades que já são desenvolvidas em diferentes espaços com populações femininas, maximizando esforços e ampliando o impacto das ações. Por que, então, desenvolver trabalhos voltados aos homens passa a ser uma questão fundamental? Em nossa perspectiva, a escolha de homens como alvo de nossas ações não é nem o ponto de partida, nem o de chegada. Trata-se de um desdobramento e um avanço a partir dos avanços históricos do movimento feminista, gay e lésbico, das inúmeras lições aprendidas. Este um dos pontos de discussão do 1º Fórum Social Nordestino, que acontece em Recife, Pernambuco, entre 24 e 27 de novembro. Nota do Editor: Sociólogo, coordenador do Instituto Papai (Rede de Homens pela Eqüidade de Gênero).
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