A atacante é considerada uma das maiores revelações do Brasil.
| João Pires / Jump | | | | Mari continua em busca da melhor forma física. |
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Aos 21 anos, a atacante Mari é a nova estrela do vôlei brasileiro e considerada uma das principais atletas da modalidade no mundo. A jogadora do Finasa foi o destaque na última edição da Superliga, ganhando os prêmios de atleta revelação, melhor atacante e maior pontuadora (472 pontos). Convocada para a seleção brasileira adulta pela primeira vez, teve excelente desempenho na conquista do título do Grand Prix, em julho, na Itália, e na disputa da Olimpíada de Atenas, em agosto. Com seu jeito tímido, bastante contido fora de quadra, a jogadora loira de olhos azuis e 1,89m de altura transforma-se em jogo, com ataques potentes e versatilidade impressionante. Tanto que pode jogar no meio, na ponta e como oposto. Além do bom ataque, tem também boa variação de saque e bom desempenho no bloqueio. Nesta entrevista, a paulistana Marianne Steinbrecher, criada em Rolândia, no Paraná, fala do início de carreira, dos quatro anos que defende o time de Osasco, da nova fase de sua carreira e o que espera do futuro. Por que começou a jogar vôlei? Mari - Por indicação médica. Estava crescendo muito e precisava desenvolver a musculatura. Estava ficando com uma grande estrutura óssea e a parte muscular não estava acompanhando. O vôlei me ajudou nesse desenvolvimento corporal de uma maneira uniforme. A minha mãe também sempre gostou muito de vôlei e me incentivou a praticar o esporte. Fui jogar no Rolândia / Faccar, em Rolândia, no Paraná. Quando você começou a jogar, em qual atleta se espelhava? Mari - Na verdade eu nem via jogos de vôlei, nem sabia o nome das atletas. Jogava por mim mesma, não tinha ninguém em quem me espelhasse. Como tem sido esse período de quatro anos no Finasa? Mari - No começo foi difícil porque estava na categoria infanto-juvenil, mas também treinava com o juvenil e o adulto. Tinha pouco tempo para estudar e acabei deixando a escola para me dedicar integralmente ao vôlei. Mas futuramente pretendo voltar aos estudos e fazer uma faculdade. A carreira de atleta não é tão longa e temos de pensar no futuro. Essa luta no dia-a-dia continua até hoje, pois o Finasa é um grande clube, que conta com excelentes jogadoras e, se você não estiver bem física e tecnicamente, acaba perdendo a posição. Você jogou em equipes adultas desde o início de carreira? Mari - Verdade. Quando jogava no Grêmio Londrinense, era infantil e já atuava no time adulto. Depois vim para o BCN na época e continuei a treinar com a equipe principal. Foi muito bom, pois já fui ganhando experiência. Você passou pelas categorias infanto-juvenil, juvenil e adulto. O que acha do Programa Finasa Esportes? Mari - É um trabalho muito importante e bastante abrangente. Ele começa nos núcleos de formação de vôlei e basquete, passa pelas categorias de base nas duas modalidades até chegar à equipe adulta do vôlei. É uma iniciativa voltada para a parte esportiva e social, em que o mais importante é formar uma cidadã, aprendendo coisas positivas, que serão úteis ao longo de suas vidas. É uma das maiores estruturas do Brasil, nos mais diferentes aspectos, que permite o pleno desenvolvimento das atletas. Você concorda com o rótulo de mulher de gelo? Mari - Cada um dá o rótulo que quer para qualquer um. A gente aceita ou não. Tenho coração e sentimento como qualquer pessoa. Na quadra posso até passar essa imagem, mas não sou mulher de gelo. Choro, dou risada, fico feliz e triste. Mas você tem uma frieza que muitas vezes é necessária durante a partida. Mari - Acho bom manter a calma, principalmente em momentos delicados do jogo. Se ficasse apavorada e os nervos fora de controle, não conseguiria ter uma boa eficiência. Isso é positivo. Em sua opinião, o que é importante para ser uma grande atleta? Mari - Trabalhar muito, com dedicação e amor. Ter cuidado com o corpo, que é nosso instrumento de trabalho. Fazer uma boa alimentação, realizar uma série de exames periodicamente. Além de tudo isso, se empenhar nos treinamentos, contar com uma boa orientação técnica e ter atletas de qualidade jogando a seu lado. Se você tiver dom e essa retaguarda, sem dúvida irá crescer no esporte. Você já teve de renunciar a muita coisa por causa do vôlei? Uma atleta de alto nível pode fazer tudo aquilo que jovens de sua idade gostam de fazer? Mari - Quem é atleta de alto nível sabe que tem de abrir mão de estar ao lado da família. Meus pais, por exemplo, moram no Paraná e encontro com eles uma ou duas vezes por ano. São muitas viagens e compromissos por causa das competições. Esse ano não tive férias. Acabou a Superliga e fiquei uma semana de folga. Depois fui para a seleção. É raro o atleta ter finais de semana livres. Você passou a ser a nova estrela do vôlei na Superliga, condição reforçada depois na Olimpíada. Como você encarou essa transformação? Mari - Não paro para pensar nisso, não lembro. Só me dou conta disso quando, por exemplo, estou num shopping e o pessoal me pára e pergunta: você é a Mari? De resto, tudo continua igual, tranqüilo como era antes. Vou continuar como sempre fui, não vou mudar minha característica porque sou mais conhecida. O que é importante é o meu trabalho dentro do Finasa e ser reconhecida por isso. Você está sendo muito assediada, o que as pessoas falam com você? O que eles dizem de sua participação na Olimpíada? Mari - Até agora, em todos os lugares em que estive, sempre fui reconhecida. Algumas pessoas ficam em dúvida se sou eu. O pessoal vem conversar comigo, recebo parabéns, palavras de incentivo. Alguns dizem que ficaram com dó de mim ao me ver chorando em Atenas. Outros pedem autógrafo. São coisas assim. Também dizem que foi muito legal minha participação na Olimpíada e querem saber mais sobre mim. Demonstram surpresa pela minha juventude e com o desempenho que venho tendo. Você recebeu uma grande quantidade de e-mails e de todos os lugares do Brasil. Você tinha a dimensão dessa popularidade? Mari - Eu já esperava. A Olimpíada tem transmissão pela TV e é vista pelo Brasil inteiro. Sabia que isso poderia acontecer, como acabou se confirmando. O que você acha de ser a nova estrela do vôlei? Como é ser espelho para muitas crianças e jovens? Mari - Não estou pensando nisso. É preciso ter cuidado com esse tipo de situação. Aquilo que eu fizer as meninas podem querer copiar. Tenho essa consciência e cuidado. Agora, as pessoas não podem perder suas características e querer fazer tudo o que o ídolo faz, como acontece em muitos casos. Cada pessoa tem de manter a sua personalidade. Pode copiar as coisas positivas do ídolo, mas sem exageros. Qual foi a repercussão de seu desempenho em Rolândia, onde mora sua família? Mari - Lá é impossível até andar na rua. Quando fui visitar meus pais, vi várias faixas me parabenizando, em diversas casas comerciais. Até na garagem de casa tinha um pôster gigante que minha mãe colocou, mas eu fiz ela tirar. Ela virou minha secretária, passava o dia atendendo telefonemas... O pessoal descobre meu e-mail pessoal e manda muitas mensagens, descobre o meu telefone e me ligam. Essa tem sido a rotina. Isso é reconhecimento do trabalho que venho realizando. As partidas que disputou nos Jogos Olímpicos são muito diferentes daquelas que você joga no Brasil? Mari - A diferença principal é a estatura das jogadoras. O nível internacional é mais forte. As atletas brasileiras são muito habilidosas, coisa que no exterior é difícil. Elas exploram mais a força, a potência. Nós também temos atletas fortes e, além disso, temos habilidade. Nossa parte técnica é mais apurada, bem diferente delas. Nesse aspecto levamos vantagem, mas em muitos casos perdemos na estatura. Qual o seu sonho? Mari - Ser campeã olímpica. Agora são praticamente quatro anos para trabalhar e tentar alcançar o objetivo em Pequim.
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