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Esportes e Lazer
24/09/2004 - 17h50
Quando o equipamento faz a diferença
Marcelo Rubens Paiva
 

Estamos nos saindo bem nas Paraolimpíadas em natação, judô e atletismo. Por que não nos damos bem em modalidades como basquete em cadeira de rodas ou corrida em cadeira de rodas? Não é só na Fórmula 1 que um bom equipamento ou pneus fazem a diferença. Nos Jogos Paraolímpicos, uma boa cadeira de rodas faz a diferença nas modalidades que as utilizam.

Há cadeiras leves e projetadas especialmente para corridas, rugby, tênis, esgrima, tênis de mesa e outras modalidades. Não por outra razão, o ouro dos 100m feminino do atletismo foi para Chantal Petitclerc, do Canadá, a prata para a Alemanha, e o bronze para os Estados Unidos. São os países que mais investem em equipamentos para portadores de deficiência.

Representantes da Quickie e da Invacare, os maiores fabricantes de cadeira de rodas do mundo, andam pelos bastidores do Complexo Olímpico como olheiros à procura de novos atletas. Muitos dos corredores são patrocinados por eles, que testam cadeiras, aperfeiçoam, como Nelson Piquet fez tanto na Fórmula 1.

Para se ter uma idéia dos projetos avançados e cadeiras com aerodinâmica e de liga leve, a velocidade média do ouro nos 100m feminino, que pertence a Petitclerc, foi de 16m/s, o que dá uns 24 km/h. Nem a mais rápida cadeira de rodas motorizada do mercado a alcançaria. E ela a tocou "no braço".

Encontrei Robert Hamilton, engenheiro da Quickie, com crachá e credencial passe-livre (acesso a tudo). Ele me disse que há uma revolução nos equipamentos, especialmente cadeiras feitas de titânio. Cada modalidade exige uma cadeira. A de rugby, por exemplo, vem com pára-choques, porque a pancadaria corre solta: para impedir um adversário de avançar, o cara da defesa simplesmente o derruba com sua cadeira, numa trombada que lembra aqueles brinquedos de carrinhos de bate-bate dos parques de diversões. A essência desta modalidade é esta: bater com a cadeira na do outro.

Já aerodinâmica é a palavra das cadeiras de velocidade. Resistência e um centro de gravidade baixo são os quesitos mais importante para o basquete.

Se os fabricantes brasileiros não derem uma forcinha, ainda vamos ver poeira nas modalidades que precisam de cadeiras de rodas.

Mas poderia ser pior. A pequena delegação do Afeganistão tem apenas uma cadeira de rodas. E ela pertence ao chefe da delegação, um amputado. Foi doada pela ONU e, segundo ele, é uma das poucas cadeiras de rodas de todo o país, que esteve em guerra por mais de 20 anos, e o número de deficientes com seqüelas é enorme.

Curiosamente, os atletas de cada modalidade têm os mesmos tiques e manias. Os de tênis de mesa em cadeiras de rodas, por exemplo, antes do saque sempre fazem um "push up", manobra para aliviar a pressão no traseiro. Os jogadores de basquete, quando caem, levantam-se sozinhos, grudados em suas cadeiras. Já os de rugby precisam de ajuda. Não é mole, não.


Nota do Editor: o escritor e jornalista Marcelo Rubens Paiva viajou a Atenas a convite da Loterias da Caixa, patrocinadora oficial do Comitê Paraolímpico Brasileiro.

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