Mães adolescentes assumem bebês mas perdem vida social
Agência USP de Notícias - Um estudo da Escola de Enfermagem (EE) da USP revelou que mães adolescentes, entre 16 e 17 anos, queixam-se não de ter que cuidar dos filhos, mas sim de perderem o contato com amigos, não aproveitarem mais as “baladas” e até de serem abandonadas pelos namorados. A pesquisa analisou o comportamento das jovens mães durante os 40 dias após o parto - chamado período puerperal -, que tivessem passado pelo alojamento conjunto do Hospital Universitário (HU) da USP em São Paulo e cujos bebês nasceram saudáveis. A autora da dissertação “A vivência da puérpera-adolescente com o recém nascido, no domicílio”, a enfermeira Suzete de Fátima Ferraz Bergamaschi, conta que o objetivo era saber se as mães adolescentes seguiam, em casa, as orientações dadas no alojamento a respeito de como cuidar dos bebês. Todas as mães ficam no alojamento nas primeiras 60 horas após o parto, recebendo orientações sobre amamentação, como trocar fraldas, como dar banho e outros procedimentos cotidianos para cuidar de seus recém-nascidos. No entanto, os profissionais não tinham um retorno sobre esse trabalho educacional para verificar se tais procedimentos são seguidos quando a jovem retorna para casa. “Nos surpreendeu o fato de todas elas terem assumido a criança ao invés de deixar aos cuidados das avós”, comenta a enfermeira. “Mas mais impressionante ainda foi observar que, para elas, os filhos não eram um problema. O que realmente as incomodava era a mudança brusca em suas vidas sociais.” Reclamações Entre as meninas entrevistadas, surgiram algumas queixas em comum. Uma delas foi não poderem mais sair para passear, ir para as “baladas”. Enquanto os namorados continuavam saindo para dançar e beber, elas tinham de ficar em casa cuidando dos recém-nascidos. As entrevistas também revelaram que, apesar de reclamarem por não poderem mais sair à noite, nas poucas vezes que as mães conseguiam sair elas não aproveitavam como antes. “É como se toda aquela folia tivesse perdido um pouco a graça”, comenta Suzete. “Elas ficavam preocupadas com os bebês, e por terem amadurecido já não curtiam as mesmas coisas de antigamente.” Outro problema é o preconceito social. Elas disseram que não eram bem vistas na sociedade, por serem mães solteiras e muito jovens. E a isso se soma um outro agravante, que é o afastamento dos amigos. “Como a vida delas e o cotidiano mudam, muitas vezes os amigos não entendem e acabam se afastando. Não há mais uma vida social”, lamenta a pesquisadora. Por fim, as adolescentes relataram que os namorados ou as abandonavam ou só ajudavam a cuidar do bebê quando iam visitar. “Não há mais tempo para namorar”, explica a enfermeira, “e os namorados não assumem uma vida a dois”. Mesmo assim, nenhuma delas abandonou o filho para poder se divertir com os amigos. Saldo positivo Suzete enfatiza que, apesar das queixas, as meninas amadureceram muito. O suporte familiar (casa e comida) permitiu que elas pudessem se dedicar aos bebês, e elas superaram todas as dificuldades comuns a quaisquer puérperas, de qualquer idade, no que diz respeito aos cuidados com o recém-nascido. A pesquisadora diagnostica que “pelo que observamos no hospital, quando as avós assumem as crianças, as meninas tendem a engravidar novamente. Mas quando as meninas assumem, elas amadurecem e ficam mais conscientes das responsabilidades de uma gravidez, e evitam ter outro filho”. Mais informações: (0**11) 3091-9411 ou e-mail suferraz@yahoo.com, com Suzete Bergamaschi. Dissertação orientada por Neide de Souza Praça.
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