Equipe contou com surfistas de ondas grandes e foi comandada por Nicolas Bourlon, francês que mora no Rio de Janeiro há 15 anos.
| Ivan Storti |  | | | A canoa havaiana pode ser um esporte radical, nas ondas. |
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Com uma das menores delegações na disputa, o Brasil fez a sua estréia no Mundial de Canoa Polinésia de curta distância (sprints), realizado na ilha de Hilo, no Havaí. Foram oito remadores competindo nas categorias V1 (individual) e V6 (equipe de seis atletas). No total, o campeonato de Va’a (nome taitiano para a canoa) reuniu 1.800 atletas de 20 países ou regiões membros da Federação Internacional. Os taitianos dominaram os principais títulos, levando nada menos que 27 das 44 medalhas de ouro em disputa. Apesar de não ter chegado às finais, a alegria dos brasileiros foi total. "O nível foi muito alto. Remamos contra os pesos-pesados do esporte, principalmente os fortíssimos taitianos", comentou Nicolas Bourlon, um francês que mora no Rio de Janeiro há 15 anos. Aos 39 anos de idade, ele começou a remar na canoa quando morou no Havaí, em 1981 e atualmente é o melhor do Brasil nas provas de canoa individual, sendo o vencedor das três disputas oficiais já realizadas, o Rio Va’a 2003 (dezembro de 2003); o Nova Schin Legends, na praia de Maresias, em São Sebastião (janeiro de 2004) e o Brasileiro de Canoa Havaiana em Florianópolis (junho de 2004). No Mundial, Nicolas competiu na disputa individual e comandou a equipe de seis remadores atuando com cinco surfistas que se mudaram para o Havaí para "dropar" ondas gigantes e usam as canoas para um treinamento mais intensivo. Morando nas ilhas de Maui e Oahu, Yuri Soledade, Rodrigo da Silva, Jefferson Santo, Márcio Silva e Jorge Muller chamaram Nicolas para ser o leme do grupo (a função mais importante) e garantiram nas eliminatórias (quartas-de-final) um 6º lugar na prova de 500 metros e um 8º na de 1.500. "O nosso time remou junto só na 1ª prova de 1.500 metros e foi melhorando ao longo da competição", disse Yuri, remador do Hawaiian Canoe Club (Maui). "O objetivo principal este ano era de conhecer melhor o tipo de prova, as equipes estrangeiras e se preparar para competir na Nova Zelândia, em 2006, com uma delegação brasileira bem maior e no máximo de categorias possível", acrescentou o remador, que é diretor para o Pacifico da Associação Brasileira de Outrigger - Va’a (associação que representa o Brasil, desde 1999, na Federação Internacional de Va’a). Nas disputas individuais, Nicolas chegou em 8º lugar na bateria eliminatória de 500 metros (quartas-de-final). "As V1, que são canoas individuais sem leme, são muito exigentes tecnicamente e bem diferentes das canoas individuais com leme disponíveis no Brasil. Também temos treinado mais para as provas de longa distância, bem diferente dos sprints de 500 metros. Para 2006, na Nova Zelândia, temos de consolidar os eventos de sprint no Brasil" destacou Nicolas. Outro destaque foi a brasileira, também radicada no Havaí, Andréa Mohler. Competindo pela equipe Clube Ae ’Ula o Kai, da Ilha de Maui, chegou em 4º lugar na final 500 metros open feminino, competindo na função de "stroker" - posição nº 1 na canoa - responsável pela cadência das remadas. "Em 2006 espero poder correr com a camiseta do Brasil", ressaltou a remadora. TAITIANOS DOMINAM - Foram cinco dias de provas e somente sete dos 20 países ou regiões participantes levaram medalhas. Taiti, Havaí e Aorearoa (Nova Zelândia) faturaram 123 das 132 medalhas. Os taitianos, como já era esperado, venceu com larga vantagem, levando 57 medalhas, 27 delas de ouro. Eles ganharam os oito cobiçados títulos das divisões open masculina e feminina - canoa individual masculina open 500m, canoas de seis remadores 500 e 1500 e canoas de 12 remadores 500m. "Trouxemos mais de 200 remadores. Esse é o nosso esporte nacional", festejou Gordon Barff, coordenador técnico da equipe do Taiti, que contou com atletas dos 16 até mais de 60 anos de idade. Na categoria masculina individual, os taitianos dominaram a prova, colocando seis remadores na final, contra um havaiano, um neozelandês e um neocaledoniano (França). O grande vencedor foi o taitiano Georges Cronstead. Os donos da casa ganharam 39 medalhas, nove de ouro. "Devemos tirar o chapéu para os taitianos", comentou o lendário remador Joseph "Nappy" Napoleon, que participou de quase todas as travessias Molokai-Oahu, a mais importante do Mundo. O Mundial é disputado a cada dois anos, desde 1984. A próxima edição será em 2006 na Nova Zelândia. Os resultados completos e galeria de fotos do evento estão disponíveis no site www.ocpaddler.com/article453.html. Rio Va’a 2004 será disputada dias 17 a 19 de dezembro As atenções se voltam agora para a realização da 3ª edição da Prova Internacional Rio Va’a 2004, entre os dias 17 e 19 de dezembro, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Os organizadores esperam a participação de mais de 20 equipes nas categorias masculina, mista e feminina, incluindo equipes de primeira linha do Havaí, Taiti, França, Suécia, Panamá, Califórnia, Austrália e Canadá. Entre times estrangeiros esperados estão o do Clube Kai O’pua, que ganhou quatro vezes a Travessia Molokai - Oahu, e o Lanikai, de Oahu, vencedor várias vezes da prova Molokai Hoe. "E lógico, times de São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Distrito Federal", disse Nicolas Bourlon, presidente do Outrigger Rio Clube. "Agora estou ansioso para retomar os treinos no Rio e repassar aos nossos associados o que aprendemos nesta viagem", afirmou Nicolas. "Em setembro devo competir com a minha equipe no campeonato estadual (Rio) de velocidade na Lagoa e, em seguida, começar a temporada de provas de longa distancia que inclui o campeonato estadual durante a tradicional Regata da Escola Naval e, claro, o Rio Va’a", revelou. Conheça um pouco mais sobre as canoas As canoas polinésias, wa’a, va’a, "outrigger" ou havaianas foram responsáveis pela colonização das ilhas da Polinésia e Micronésia. O outrigger atual descende diretamente das antigas canoas de pesca havaianas e taitianas. Nos últimos 50 anos, a embarcação conquistou o status de esporte nacional no Havaí e na Polinésia Francesa e foi amplamente difundida na Austrália, Nova Zelândia e encontra-se em franca expansão na Europa, Canadá e Estados Unidos. Estima-se que o esporte é praticado hoje por até 25 mil pessoas na Polinésia francesa (onde é tão popular quanto o futebol no Brasil), 10 mil no Havaí, 5 mil na Austrália e números significativos e, em forte crescimento, em mais de 15 outros países. As canoas de seis remadores medem quase 14 metros de comprimento, com 50 centímetros de largura. Pesam entre 150 e 180 quilos e comportam um estabilizador lateral (chamado de ama), fixado por duas traves de madeira (yakos). Nesse esporte, o respeito às tradições da polinésia é fundamental, destacando o trabalho em grupo. Numa equipe experiente, sincronismo entre os remadores, a técnica de remada e a potência permite que a canoa deslize na água alcançando até 21 km por hora. A canoagem havaiana se diferencia do remo e do caiaque por não exigir qualquer treino específico para que se possa iniciar a sua prática. O trabalho de equipe promove a integração e sincronia entre seus praticantes, pois cada indivíduo tem uma função distinta e cada posição na embarcação tem um papel de responsabilidade.
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