Agência USP de Notícias - A falta de um marketing esportivo eficiente pode ser uma das explicações para o êxodo de jogadores do futebol brasileiro para o exterior. Essa é uma das conclusões da pesquisa desenvolvida pelo pesquisador Mario Luiz Soares na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. "Apenas com a bilheteria e com a venda de camisetas é impossível manter esses jogadores no futebol brasileiro. Veja o exemplo de Alexandre Pato, do Internacional de Porto Alegre", explica Soares. O jogador, de apenas 17 anos, foi negociado recentemente com o futebol italiano por R$ 50 milhões. O trabalho foi baseado no estudo de caso de duas agremiações consideradas referências de boa gestão: o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e o Clube Atlético Paranaense. Iniciada em 2004, a pesquisa analisou a gestão do marketing esportivo nesses dois clubes identificando suas estratégias e ações nessa área. Por meio de entrevistas com dirigentes e análise de documentos disponibilizados pelos clubes, Soares chegou à conclusão de que eles sofrem de uma "miopia" em suas estratégias de marketing. "O grande problema que encontramos foi quanto à gestão. As decisões são, por vezes, equivocadas e tomadas com base em dados ou informações empíricas e pouco confiáveis", afirma o professor. Isso faz, segundo ele, com que os clubes deixem de ganhar grandes patrocínios, já que os investidores em potencial não se sentem seguros para investir em um negócio gerido dessa forma. "A questão não é falta de dinheiro. A ausência de uma gestão profissional espanta os grandes patrocinadores. Os clubes brasileiros não oferecem nada além de espaço publicitário no estádio e na TV, com a exposição da marca para alguns mil torcedores". "Nesse caso, não podemos sequer falar que existe estratégia de marketing. Isso porque estratégia pressupõe pensar a médio e longo prazos. A maioria das ações de marketing colocadas em prática e analisadas tiveram resultados pontuais, de curto prazo", afirma o pesquisador que analisou as ações implementadas pelos clubes ao longo da pesquisa. "É necessário mudar tudo. O modo como os clubes brasileiros levam essa questão é totalmente ultrapassado", afirma Soares. Segundo ele, seria necessário reformular a estrutura dos clubes passando o poder de decisão para gestores profissionais, que proponham e implementem estratégias de médio e longo prazo. "É assim que se faz na Europa, com gestores profissionais olhando mais a frente", explica. "O Real Madrid, por exemplo, contratou o jogador David Beckham como uma tentativa de se inserir no mercado asiático, onde muitos gostam do futebol do atleta. Foi um movimento estratégico para ganhar mercado". Raízes do problema De acordo com o pesquisador, o problema da gestão nos clubes tem raiz histórica. "Quando chegou ao País, o futebol era praticado e dirigido somente pela elite e em clubes fechados. Por isso, quando o esporte começou a se popularizar, os clubes passaram a serem vistos como uma escada de ascensão social e política, como forma de ganhar popularidade". Mais informações: (0**45) 3225-1003 ou e-mail mlsoares@usp.br. Pesquisa orientada pelo professor Fauze Najib Mattar.
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