| Patricia Ártico |  | | | Paulo Ricardo Meira. |
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Certa feita, um piloto profissional gaúcho definiu trânsito de uma maneira singela e muito peculiar: "trânsito é comunicação". De fato, é um espaço social no qual necessariamente convivem pedestres, motoristas, motociclistas, carroceiros, enfim, é a cidade em movimento. Nenhum homem é uma ilha, já decretou Simmel. Como nas mais prosaicas atividades sociais, a comunicação humana é essencial, e o trânsito seguro não é exceção. Boa parte dos raspões, pára-choques amassados e mesmo atropelamentos seriam evitados se tivéssemos mais preocupação em comunicar aos outros nossas intenções no trânsito. Dar ré em um estacionamento, fazer uma conversão, mudar de pista, diminuir a velocidade, todas essas ações individuais refletem-se no agir dos demais usuários do sistema, e por isso deveriam ser extensivamente comunicadas não só pelos equipamentos do veículo, mas também complementadas com gestos, olhares e toda nossa capacidade de expressão. Contudo, egoisticamente, ou por desconhecimento, limitamos nossa comunicação aos demais ocupantes do mesmo veículo em que estamos, o que por si já é perigoso. Uma pesquisa da Universidade Católica de Brasília traçou os três principais causadores de distração dentro dos automóveis, e em quanto eles aumentam o risco de batidas. Fumar ao volante é o ato que mais aumenta o risco de acidentes, em 20%. Conversar dentro do carro aumenta a chance de acidentes em 15%. Se for uma discussão, muito pior, já que o motorista fica ainda mais distraído. E o uso do telefone celular é a terceira maior causa, com 11% de aumento de risco. Agora, com boa parte dos gaúchos com descendência italiana, imagine como dirige e conversa quem tem o hábito de falar com as mãos... Nada melhor que comunicar-se com os outros, mas no trânsito o chamado ruído na comunicação pode ser um desagradável guincho de metal e plástico retorcido. Como agravante, o disseminado uso de películas nos vidros dos automóveis tem isolado cada vez mais os condutores dos demais usuários da via, diminuindo por conseguinte sua capacidade de ver e ser visto, regra básica de segurança no trânsito. Por mais que um condutor tente instintivamente nos fazer um gesto de dar a vez ou que tomará alguma ação diferente, nós simplesmente não o vimos. O que era um espaço social, assim, se torna um espaço de conflito e risco para todos. Se o homem é um ser social, também deveria sê-lo no trânsito. Nota do Editor: Paulo Ricardo Meira é Técnico Superior do Detran-RS e Professor de Marketing do UniRitter.
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