O avanço tecnológico permite que milhares de informações e imagens, das mais diversas culturas e fatos, invadam nossas casas e os quartos de nossas crianças via TV ou Internet. O que fazer? Liberar tudo? O que proibir? São perguntas comuns de pais angustiados. Essa realidade, somada à banalização da violência e ao forte apelo sexual que se destaca na mídia, levanta desafios e é alvo de freqüentes estudos. O fato de a televisão ter se tornado uma "ocupação" constante para a criança é visto com cautela pelos educadores. "Ao mesmo tempo em que tal ação representa a integração aos novos tempos, também pode ser o contato com o que há de pior neste espaço de informação e imagens indiscriminadas", afirma a psicóloga Ana Cristina Dunker, diretora do Espaço Vivavida, escola de educação infantil de São Paulo. Para a especialista, dar doses de fantasia a uma complicada situação real ou tentar restringir o acesso a uma realidade "dura demais", impondo limites, são atitudes de proteção cada vez mais difíceis de sustentar. "Em uma época onde é importante saber de tudo e o quanto antes, os pais se vêem pressionados a introduzir cada vez mais cedo os filhos no mundo da informação. Mais além, vem a sobreposição crescente entre o saber que se ensina formalmente e o saber ligado ao entretenimento", afirma Ana. A psicóloga é enfática ao comentar a exposição da criança à violência e a erotização dos costumes. "Programas que exploram diretamente tais aspectos devem ter seu acesso vetado. Há um consenso de que a exposição a tais programas é um fator de risco para o desenvolvimento social e cognitivo". O desafio é: como fazê-lo? O veto ao acesso a certos programas ou jogos em função de seu risco potencial é muito difícil de cumprir. Para Ana, as escolas de educação infantil podem ajudar a trazer a própria criança para o centro da avaliação do que é ruim ou bom assistir, ao estimular o julgamento do que é apresentado e enfatizar a tarefa de qualificação da informação pelo próprio jovem. "Isso auxilia no que chamamos de formação estética de nossas crianças, desenvolvendo seu raciocínio crítico." Uma tática importante nesse processo é a de não separar totalmente a alta cultura da cultura popular e da cultura industrial televisiva, enfatiza a educadora. "Nesta comparação, a criança poderá perceber que parte do que se veicula na televisão não é apenas ruim do ponto de vista do conteúdo, mas muito pobre e desinteressante também do ponto de vista formal. O limite torna-se, então, uma ação não apenas baseada na proibição baseada na autoridade do adulto, mas um juízo de qualidade construído e partilhado pela criança". Para Ana Cristina Dunker, estes parâmetros são fundamentais. "Eles darão condições às crianças de diferenciar o real do imaginário, o certo do errado, o bom do mau. É na socialização das idéias com o professor, com os colegas de sala e com os pais que a criança constrói seu conhecimento", diz a psicóloga do Espaço Vivavida.
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