Ano 2 - Nº 18 - Ubatuba, 14 de Março de 1999 |
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· As mazelas do falso amor Roberto C. P. Júnior rcpj@sol.com.br Vivemos os Últimos Anos do Juízo Final - Livro Eletrônico
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para o verdadeiro amor. Nenhum túmulo é capaz de confiná-lo, porque ele não é formado de matéria nem está sujeito a ela. E o amor maternal? E o filial? Também ambos, originalmente naturais e belos, foram irremediavelmente impregnados de falso amor. Durante séculos o amor materno foi decantado como o mais nobre dos sentimentos da mulher, como se a principal missão da feminilidade fosse gerar filhos para poder fazer jus a esse sentimento. Ninguém se lembrou aí de que o ser humano, homem ou mulher, é essencialmente um ser espiritual, e como tal tem de atuar em primeira linha. A procriação não é a principal função do casal humano; considerá-la como tal é promover um rebaixamento intencional do verdadeiro papel, da real missão do espírito humano na Criação. É uma abjeção voluntária, indigna da espécie humana, decorrente também da crônica indolência espiritual, que descarta de pronto a intuição em toda deliberação e invariavelmente suprime qualquer tentativa de reflexão mais aprofundada. Não foi por outro motivo, aliás, que o "crescei e multiplicai-vos" foi alegremente recebido como uma revelação toda especial, e posto em prática com espantoso afinco e admirável empenho desde então. As odes seculares erguidas em louvor ao amor materno, como se a mulher não fosse mais do que uma graciosa espécie reprodutora bípede, transformaram-no num fardo doentio que solapa o livre desenvolvimento espiritual, tanto da mãe quanto dos filhos. Àquela faz crer que possui direitos absolutos e permanentes sobre a prole, enquanto que a esta última impõe a obrigatoriedade da gratidão eterna, mesmo que freqüentemente sob o manto da hipocrisia. Isso, sem falar do asqueroso mercantilismo desse "amor" filial. A americana Anna Jarvis, que no início do século inadvertidamente criou o "dia das mães", e que se empenhou pessoalmente para que essa comemoração fosse adotada em outros 43 países, chegou ao fim da vida, no ano de 1948, completamente amargurada com a sua "invenção". Morreu reclusa, remoída de desgosto e sofrimento, tendo de presenciar como o seu propósito inicial, aparentemente inócuo e bem-intencionado, se transformara numa aberração comercial de alcance global. O falso amor inseriu-se de tal forma nas concepções humanas, ao longo de milênios, que mesmo os esforços em compreender acertadamente a atuação do nosso Criador foram por ele torcidos irremediavelmente. Imagina-se hoje, pois, que o próprio Jesus tenha sido também complacente e condescendente, buscando-se ver nisso uma prova inconteste da atuação do Amor divino. Ele, que foi o Amor de Deus encarnado na Terra, e que por isso mesmo foi particularmente severo com as criaturas cerebrinas daquela época, é apresentado como exemplo máximo de atuação do falso amor, o qual foi gerado exclusivamente pela indolência do espírito humano e conservado pela sua cegueira. Chegou-se mesmo a ponto de considerar a sua morte na cruz como tendo sido um sacrifício voluntário, um holocausto desejado e programado com antecedência pelo Alto, para a redenção automática dos habitantes dessa Terra aqui, enquanto que na verdade tal pavoroso acontecimento, fruto do livre-arbítrio da humanidade pecaminosa, não foi mais do que um brutal assassinato. Passou-se assim ao largo de sua Palavra, única via de salvação, para a cândida aceitação dessa concepção de uma morte inevitável do Filho de Deus. O falso amor venceu mais uma vez, e obteve aqui o seu maior triunfo. Ele envolveu a cristandade inteira no aconchego de uma falsa esperança, deixando em segundo plano as próprias palavras do Mestre, cujo cumprimento incondicional era a única possibilidade de alcançar a almejada salvação. Mas assim como tudo o mais que ainda é e está errado, também o falso amor acha-se com os seus dias contados. No futuro, quando tivermos sido forçados a reaprender o real significado da palavra amor, iremos certamente pensar duas vezes, dez vezes, antes de ousarmos pronunciá-la novamente.
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Ano 2 - Nº 18 - Ubatuba, 14 de Março de 1999 |
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