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Ano 1 - Nº 11 - Ubatuba, 16 de Agosto de 1998
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Entrevista
· Os Masters do Brasil
    Ricardo Yazigi, de Madri
    ryazigi@iconet.com.br

Fernando Telles Ribeiro, 60 anos, pratica saltos ornamentais desde os 17 e tem um currículo de fazer inveja a qualquer atleta: foi campeão carioca de 1956 a 1970 (só perdendo o título em 64 e 66 por ter ficado alérgico ao cloro da água da piscina), foi campeão brasileiro por dez vezes, 6 vezes campeão sul-americano, participou de 2 olimpíadas, ficou em quarto lugar no mundial de masters realizado há 4 anos no Canadá e agora, em junho passado, no VII World Masters Championships, campeonato mundial de natação e saltos realizado em Casablanca no Marrocos, com 2.332 participantes de 86 países, sagrou-se vice-campeão mundial no salto de trampolim e ainda trouxe para o Brasil, a medalha de bronze do salto de plataforma de 7,50m. Em entrevista exclusiva a UbaWeb, Telles fala de suas experiências sobre um esporte pouco praticado no Brasil mas muito admirado nas olimpíadas.

Fernando Telles Ribeiro

UbaWeb - Conte um pouco do início de sua trajetória.
Telles - Bem, eu morava no Rio de Janeiro e gostava muito de saltar das rochas. Um belo dia eu estava saltando e sem perceber, estava sendo observado por um treinador de saltos, que admirado com minha performance me fez um convite para treinar no Fluminense. Na época, nem sabia que existia tal modalidade, não dei muita bola e acabei não aparecendo no clube. Passou um tempo e através de amigos comuns o treinador acabou me contatando novamente e me convencendo a treinar, com o argumento de que, com meu potencial, em seis meses ele faria de mim um campeão. Seis meses depois eu já era campeão carioca.

UbaWeb - Durante muitos anos consecutivos o Sr. foi campeão brasileiro isolado. A que o Sr. deve esse fato?
Telles - Principalmente à falta de concorrência, no Brasil. Eu tinha talento para o salto, treinava sério e não tinha concorrente à altura. Quando participava de torneios internacionais eu sentia a diferença. Participei de duas olimpíadas, mas minha melhor classificação foi um vigésimo lugar. Faltava estímulo para me aperfeiçoar. Hoje a situação já é diferente. Existem bons atletas e bons técnicos no Brasil. Mas é de suma importância a participação dos atletas brasileiros nos torneios internacionais.

UbaWeb - O que fez um campeão, depois de muitos anos sem competir, voltar aos treinos com empenho e conquistar o vice-campeonato mundial de masters?
Telles - Não existe idade nem limite para o esporte. Senti que ainda saltava como jovem. Foi aí que decidi construir um casa para morar em Alphaville, com uma piscina de 3,00m de profundidade própria para o treino de saltos. Minha mulher e minhas filhas me incentivaram muito.

UbaWeb - Quanto o Sr. treinou para conseguir essa sua última grande conquista?
Telles - Você tem que treinar todos os dias, que é para perder o medo. Não adianta treinar sem um técnico. O treino solitário faz com que você não perceba seus defeitos. Como tenho meu escritório de despachos aduaneiros, tive que contar com a boa vontade de meu sócio para me cobrir nas horas em que treinava no Clube Pinheiros. Meu técnico, o Roberto Gonçalves, me ajudou muito. O engraçado é que em 1970 ele era professor de educação física e fui eu que o ensinei a saltar. Agora é ele que me orienta.

UbaWeb - O que faltou para o Sr. ter conseguido ser o campeão?
Telles - Eu obtive o maior número de pontos do campeonato, entretanto o alemão que venceu foi mais arrojado. Os meus saltos foram ótimos, mas o alemão teve mais coragem e além de tudo ele já era o campeão mundial, o que conta muito para os juízes. Mas mesmo assim ele mereceu, sem dúvida alguma. Para ter vencido eu precisaria ter feito um salto mais arriscado.

UbaWeb - O que o Sr. pensa na hora do salto?
Telles - Eu mentalizo que vou fazer um salto perfeito, imagino-me saltando e aí na hora de pular me abstraio de tudo.

UbaWeb - Por que os campeonatos de masters, em geral, no Brasil, não têm divulgação?
Telles - Na verdade, é a grande mídia que não divulga. As revistas especializadas e outros tipos de mídia estão dando destaque ao esporte praticado pelos mais velhos. A minha impressão é que está havendo um grande movimento para divulgar as maneiras para se obter uma boa saúde e sem dúvida, o esporte é uma delas. Na Europa e nos Estados Unidos os masters têm tido muita divulgação e apoio. Eu acho que no Brasil a tendência é também crescer.
UbaWeb - O que deveria ser feito para que o Brasil se aprimorasse nesse esporte?
Telles - Criar escolinhas para a formação de atletas, construir mais piscinas aquecidas e cobertas para saltos afim de facilitar os treinos, pois no inverno fica difícil treinar numa piscina sem aquecimento e descoberta. A promoção de shows com saltos ornamentais é um mercado promissor e incentivaria demais o esporte.

UbaWeb - E para encerrarmos a entrevista gostaria que o Sr. enviasse uma mensagem para aqueles que querem vencer no esporte.
Telles - Todo resultado é uma inteligente conjugação de esforços. Para vencer é preciso promover uma concentração de esforços, de forma inteligente, com racionalidade e muita fé.

Frederico Werner Krapf e Fernando Telles Ribeiro - Foto: Ricardo Yazigi

Frederico Werner Krapf, 61 anos, pratica natação desde os 7, entretanto só nos últimos anos começou a treinar visando as principais competições nacionais e internacionais da categoria. O resultado desse empenho foi a conquista dos campeonatos paulista e brasileiro de masters de 98 na modalidade costas e, em junho passado, no VII World Masters Championships, campeonato mundial de natação e saltos realizado em Casablanca no Marrocos, conquistou para o Brasil, a medalha de bronze no revezamento dos 200m. Em entrevista exclusiva a UbaWeb, Krapf fala como conseguiu tornar-se um campeão após os 60.

UbaWeb - Como é tornar-se um campeão depois dos 60?
Krapf - É muito bom, mas é necessário muito empenho e confiança em si mesmo. O estímulo familiar também ajuda muito.

UbaWeb - Quais são seus objetivos?
Krapf - Conquistar o campeonato sul-americano em setembro, que vai ser realizado em Vitória e ficar entre os três melhores do mundo. Estou treinando para isso.

UbaWeb - Como o Sr. pretende conquistar esses objetivos?
Krapf - Em primeiro lugar, treinando muito. Nado de 2.000 a 3.000 metros diariamente. Procuro sempre aperfeiçoar a técnica, mais técnica e menos força. Também é importante ter uma boa alimentação e tomar vitaminas adequadas, os complexos vitamínicos ajudam muito. Outro fator relevante é ter acesso a uma piscina aquecida e coberta, principalmente nas épocas de chuva e frio.

UbaWeb - Qual a diferença de competir sozinho e em grupo?
Krapf - É muito diferente. A competição individual depende exclusivamente de você ir se superando a cada dia, entretanto ganhar uma competição de revezamento é o auge da natação, pois é mais completa. Nossa equipe nesse último mundial era composta de 2 homens e 2 mulheres cujas idades somadas ultrapassou 280 anos. Trouxemos a medalha de bronze para o Brasil. É muito gratificante.

UbaWeb - Como vai a natação no Brasil?
Krapf - A natação vai ser o esporte do próximo milênio pois é o único esporte que não tem alto impacto e é uma auto massagem. As pessoas se sentem bem ao praticá-la. As escolas de natação não param de crescer. Sou professor de educação física em Itapetininga, no ano passado dos meus 96 alunos, 11 estavam empregados em escolas de natação e esse número vem crescendo anualmente. Como variantes da natação também estão em crescimento a hidroginástica e a hidroterapia.

UbaWeb - Para finalizar, qual o limite para um atleta?
Krapf - Não existe limite, quanto mais você se esforça, mais você consegue. A brasileira Maria Lenck acabou de ser a campeã mundial na modalidade costas, com 83 anos de idade. Ela foi a primeira nadadora sul-americana a participar de uma olimpíada, a de Berlim em 36. Tom Lane, um americano com 104 anos de idade, participou do último campeonato mundial de natação. Como se isso não bastasse só mais um pequeno detalhe: ele está cego desde os 70. Portanto, não existe limite para o ser humano.Fim do texto.

 
  1. Com um rodo.
  2. A cobra.
  3. Vamos dar uma voltinha?
  4. Gelo.
  5. Não vou contar, só eu sei.
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