Os Guaranis em Ubatuba
A história dos índios guaranis começa a ser registrada durante os séculos XVI e XVII. Segundo a história, os guaranis viveram entre a cruz e a espada. Projetados no papel de dóceis e regrados discípulos dos missionários jesuítas ou da infeliz vítima dos sanguinários bandeirantes, eles estabeleceram uma estratégia própria que visavam não apenas a mera sobrevivência mas, também a preservação de sua identidade e do modo de vida.
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Foto: Divulgação Funai | | Foto: Divulgação Funai |
No fim do século XIX os guaranis iniciaram um processo de migração rumo ao litoral, até que no final da década de 60 surgiu a Aldeia Boa Vista, em Ubatuba, com a chegada de três famílias trazidas para o Prumirim por Octacílio Dias Lacerda. Até chegarem ao Prumirim, a saga dos guaranis pode assim ser resumida: Do Paraguai eles emigraram para o Paraná, sendo trazidos para Paraty. De Paraty eles foram para a Fazenda do Maia, no bairro do Taquaral, já em Ubatuba. Um desentendimento na fazenda tirou-os de lá para a Ponta do Piúva, no bairro da Casanga, até que Lacerda ajudou a escrever a história recente dos índios Guaranis em Ubatuba, estabelecendo assim a Aldeia Boa Vista da Nação Guarani. Numa estratégia montada por Lacerda, a Funai acabou legitimando a posse da terra para os índios, resgatando assim a dívida que Ubatuba tinha com os primeiros habitantes desta terra (os índios tupinambás extintos na época da colonização).
Hoje, são 119 índios vivendo na aldeia, liderada pelo jovem cacique Marcos Tupã. A Prefeitura de Ubatuba e a Funai têm oferecido apoio logístico e nota-se uma mudança significativa no modo de vida dos Guaranis, sem que eles percam a identidade com seus antepassados. Recentemente eles começaram a ser servidos com rede elétrica, abastecida através da captação da energia solar.
A aldeia Boa Vista está localizada no bairro do Prumirim e conta com uma área de 801 hectares.
FONTE | Ubatuba - 361 anos - Outubro/1998 - Comunicação Versátil |
ATUALIZAÇÃO |
Tekoa Nãndeva'e - Boa Vista, em tradução livre.
A regra não é expressa, mas todos sabem: quem deseja se casar com branco tem de deixar a aldeia. Segundo o cacique Altino dos Santos, 53 anos, nenhum índio jamais abandonou Boa Vista com esse propósito.
A preocupação em preservar a cultura guarani está implícita no dia-a-dia da aldeia.
Nenhum dos índios vai trabalhar na cidade - todos vivem do artesanato em bambu, comercializado na beira da estrada, e da venda de palmito aos sábados, na feira de Ubatuba. Para comer, se viram com o que a mata oferece, como palmito e banana. O que falta, como o arroz e o feijão, compramos no centro da cidade, diz o cacique.
Alguns rituais indígenas, como as rezas, também são mantidos: há encontros todas as noites na casa de reza.
A aldeia conta com um posto de saúde, uma escola que oferece merenda, placas solares para a captação de energia elétrica, fossa séptica e um telefone comunitário.
Graças a essas melhorias, a comunidade conseguiu controlar doenças como gripe e verminose e baixar consideravelmente a taxa de mortalidade infantil. Até o alcoolismo, que atingia de 20% a 30% dos adultos da aldeia, hoje não é mais considerado um problema.
Outra prova de que a cultura indígena está sendo preservada é a música.
Em fevereiro de 1999, a aldeia Boa Vista, junto com outras três aldeias guaranis de São Paulo e do Rio de Janeiro, lançaram o CD Ñande Reko Arandu (Memória Viva Guarani), composto de canções infantis indígenas, algumas de temática religiosa.
Para manter a originalidade, o CD foi gravado por um grupo de 120 coralistas e músicos das aldeias indígenas, em um estúdio móvel. Todos os instrumentos utilizados também fazem parte da tradição guarani, como chocalho, violão de cinco cordas, rabeca de três cordas e tambor. O sucesso atingido com o CD rendeu aos guaranis apresentações por todo o país - e o reconhecimento internacional.
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