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EVENTOS
Encenação da Paixão de Cristo

Encenação da Paixão de Cristo
Foto: © Miguel Angel
A encenação da Paixão de Cristo em Ubatuba nasceu de um grupo teatral chamado Tramoyas e Paranoyas, cujos integrantes resolveram levar a arte dramática para as ruas de Ubatuba, e assim, conquistar um público maior. Foi em 1990 que aconteceu, pela primeira vez, o espetáculo de encenação, com a participação de cerca de 30 figurantes. Durante os anos seguintes, Bado Todão, um dos idealizadores e fundadores do espetáculo e também ator principal, no papel de Jesus Cristo, assumiu, junto com a FUNDART, a direção da peça. Em 1991, o número de figurantes dobrou e o espetáculo atraiu um público bem maior. Em 1992, às vésperas da Semana Santa, o maestro Pedrinho, pessoa muita querida em Ubatuba e com grande ligação com o grupo teatral, veio a falecer. A encenação foi suspensa. Mas, em 1993, o espetáculo retornou à avenida Iperoig, com uma infra-estrutura bem mais elaborada: quatro palcos, cenários produzidos por artistas locais, figurantes representando centuriões do exército romano, iluminação de tochas e o final apoteótico no morro da Prainha, com a crucificação e ressurreição de Cristo. O público que acompanhou o espetáculo foi maior que o registrado na avenida durante o carnaval.

A dramatização da via-crúcis acontece em vários planos. O nascimento de Jesus, a reunião com os apóstolos na Santa Ceia, a traição de Judas no Jardim do Morro das Oliveiras, o julgamento de Cristo no Palácio de Caifás, Cristo diante de Pilatos, são cenas que vão desvendando a trajetória desde episódio bíblico. O espetáculo finaliza com a procissão do Calvário ao som do canto de Verônica, até o morro da Prainha, onde acontece a crucificação. São momentos que emocionam e surpreendem o público.


A MALHAÇÃO DO JUDAS

Em Ubatuba sempre existiu a tradição de malhar o Judas no sábado de Aleluia. Em pesquisa realizada pela Diretoria de Turismo e Cultura Municipal, em 1977, foram coletados os seguintes depoimentos:

"Fiz o Judas desde criança, com a meninada da rua, com roupa velha, palha seca, madeira e forquilha. Dois ou três dias antes do sábado de Aleluia começavam os preparativos. Eram de oito a dez Judas e toda a cidade participava. À meia-noite de sexta-feira, arrumávamos os Judas, que eram malhados no sábado, depois das 9 horas.

Lembro-me especialmente de um ano, em que fizemos um Judas e o pusemos em pé, encostado numa árvore, bem na porta de uma casa. O dono da casa saiu, no escuro, e pensou que era um namorado da cunhada, de quem ele não gostava. Foi brigar com o Judas e o empurrou; pegou uma faca, enfiou na barriga do Judas e saiu gritando que tinha matado o namorado da cunhada" - Francisco Viana, nascido em 1913.

"Toda a cidade participava, era uma festa. Aquelas casas de meia-porta, ao rés da rua, eram as preferidas para as brincadeiras e amanheciam, no sábado, com Judas e galhos. Ninguém se aborrecia, era um ambiente alegre" - Altivo Simonetti, nascido em 1905.

"Roubávamos carroças e largávamos numa esquina, com um Judas dentro, amarrado em cima do banco, com as rédeas na mão. Uma vez pegamos uma carroça da rua Maria Alves e largamos na praia. O dono saiu, furioso, atrás do ladrão e quando viu que era um Judas, caiu na risada e por muito tempo comentou o fato" - Batista de Oliveira, nascido em 1904.

"Havia um pescador na cidade que não era muito bom do juízo. Roubamos sua canoa e fundeamos na rebentação, com um Judas sentado, pescando. Quando o homem descobriu, pegou um pau e entrou na água para bater no homem, gritando e xingando. Fazíamos também um Judas bem firme e colocávamos em pé na porta das casas. De manhã, ao abrir a porta, o Judas caía em cima da pessoa. Era um susto e uma brincadeira" - Manoel Nunes de Souza, nascido em 1906.

FONTE
Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba - FUNDART
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