Folia de Reis ou de Santos Reis
"Quando, no mês de novembro, as cigarras começavam a cantar, Papai dizia: - Meu filho, tá na hora de afiná a viola prá cantar Reis. Eu era rapazinho e ficava contente, porque eu acompanhava Papai nas andanças da cantoria de Reis. Naquele tempo não tinha estrada e nem luz, a noite eram usados fifós (tochas feitas de gomo de bambu com azeite de nogueira dentro) para clarear o caminho. Então as pessoas que não cantavam Reis, carregavam os fifós, era aquela procissão de madrugada, era uma beleza. Oh meu Deus, que saudade!"
Depoimento de Ozório Antonio de Oliveira, nascido em 10/02/1899, morador do sertão do Pumirim.
"Folia de Reis ou de Santos Reis, manifestação folclórica de cunho religioso introduzido no Brasil através da colonização portuguesa. Essa manifestação em Portugal no século XVII tinha como finalidade o divertimento do povo. Ao chegar no Brasil no século XVIII a Folia de Reis passou a ter um sentimento mais religioso do que profano".
FONTE | Thereza Regina de Camargo Maia e Tom Maia - Caderno Vale do Paraíba - Festas Populares |
FOLIA DE REIS EM UBATUBA
Em Ubatuba existe Folia de Reis que teimosamente caminha com dificuldades, mas está aí a cantarolar versos exaltando o Deus Menino. As Folias de Reis ou de Santos Reis em Ubatuba são diferentes das folias do Vale do Paraíba.
Na região vale-paraibana prevalecem as chamadas Folias de Reis Mineiras, compostas por seis a onze membros assim distribuídos: Instrumental - viola, sanfona, violão, caixa surdo, cavaquinho, reco-reco de bambu e chocalho. Vocal: primeira e segunda voz, contra canto ou contralto e tripe ou tipe, que é uma oitava acima. Esse tipo de agrupamento usa uma bandeira que leva o nome da folia e geralmente uma pintura com uma sena que lembra o nascimento do Menino Deus. É comum encontrar esse tipo de agrupamento folclórico de cunho religioso no interior dos estados de São Paulo, Paraná, Sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
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Foto: © Hugo Simeão | | Foto: © Hugo Simeão |
No litoral, especificamente em Ubatuba, o toque de folia, seu canto, sua composição, se diferencia do interior do Estado. Até mesmo dentro do próprio município existem diferenças no modo de se cantar e tocar. As folias da praia Vermelha do Norte até a praia do Camburi se apresentam com apenas duas vozes, ou seja, primeira e segunda, mais o tripe ou tipe. No instrumental apenas duas violas.
No bairro do Perequê-Açú a folia é cantada pelo senhor Octávio, no estilo paratiano, composta de viola, cavaquinho, triângulo e na parte vocal, uma primeira voz e um falsete (quinta acima).
No centro urbano ainda encontramos resquícios de uma famosa Folia de Reis do senhor Manoel Barbosa (Mané Barbeiro). Alguns remanescentes do grupo ainda relutam para manter a música e a orquestração, como é chamada por eles. Essa Folia de Reis era uma Folia de Reis de Banda de Música, pois era composta de violão simples, violão de sete cordas, cavaquinho, violino (rabeca), clarineta, sax-tenor, trompete, pandeiro e chocalho. No vocal apenas primeira e segunda voz.
Existe ainda no centro urbano o Grupo de Folia de Reis da Dona Ophélia que é composto basicamente por mulheres caiçaras. Um fato inédito, pois a Folia de Reis é manifestação folclórica realizada por homens.
No sul do município temos no Sertão da Quina o Grupo de Folia de Reis do Zéca Pedro e seus familiares. Esse grupo é bem parecido com os grupos do lado norte da cidade. Na Maranduba existe hoje um grupo que é uma mistura de dois estilos, o caiçara e o mineiro. Antunes, responsável pelo grupo, é caiçara e sua esposa Victória, que também compõe o grupo, é mineira. Nesse grupo podemos notar que não existem divisões de vozes, é afinadíssimo, mas é unissonante no cantar. Na parte instrumental tem violões, cavaquinho, timba, pandeiro e chocalhos.
Santos Reis vai despedindo
Deixando muita saudade.
Vai deixando muita benção
Pro povo desta cidade.
Versos de Pedro Dovina e Graciano Bernardo
Nesta caminhada em busca do conhecimento dos costumes, crenças, danças e cantorias do povo caiçara, descobrimos um manancial muito rico em cultura popular que deve ser respeitado por todos. É obrigação de todos nós fazer com que a juventude caiçara tenha conhecimento dos seus valores culturais.
FONTE | Sidnei Martins Lemes |
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