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SEÇÃO
Brasil
19/03/2006 - 05h00
TV digital
Flávio Dieguez e Thais Leitão - ABr
 


Hélio Costa diz que Brasil não vai adotar um padrão único de TV digital
Thais Leitão - ABr

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse dia 17, no Rio de Janeiro, que o Brasil não vai adotar um único padrão de TV digital. Segundo o ele, a tecnologia nacional vai articular ferramentas de modelos já existentes.

"Nós não vamos adotar o padrão americano ou o europeu ou o japonês por inteiro, mas ferramentas dos três padrões, até porque algumas delas são comuns", disse Costa, acrescentando que a implantação dessa tecnologia deve ser coerente com a realidade brasileira e oferecer gratuidade, mobilidade e interatividade.

O ministro destacou, no entanto, que a decisão final sobre a definição do padrão está nas mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem prazo para optar.

Hélio Costa disse, ainda, que somente os paulistas poderão assistir à Copa do Mundo deste ano utilizando a tecnologia de TV digital em caráter experimental. Segundo ele, em julho serão instaladas 10 mil caixas de recepção em algumas regiões de São Paulo e a partir de setembro o país já deve ter condições de operar a tecnologia comercialmente.

O ministro espera que o equipamento de TV digital deva chegar ao consumidor com preços que variam de R$ 100 até R$ 30 mil. Em casos mais baratos, bastaria comprar a caixa de conversão que pode ser acoplada à televisão já em uso. Já nos mais caros, o consumidor pode preferir comprar um aparelho novo produzido totalmente de acordo com a nova tecnologia.

Algumas linhas de financiamento estão sendo estudadas pelo governo para facilitar o acesso da população. "No Banco Popular, por exemplo, o terminal para fazer a conversão poderá ser financiado por R$ 10 por mês. Estamos oferecendo um crédito para que todo brasileiro que tem um televisor em casa possa comprar o terminal", disse ele, afirmando que a indústria brasileira já está pronta para produzir o conversor que for necessário. "Estamos produzindo essa caixinha [de conversão] e já mandamos para os Estados Unidos."


Professor diz que os pontos mais importantes sobre a TV digital foram pouco debatidos
Flávio Dieguez - ABr

O professor Tadao Takahashi, presidente do Conselho de administração da TVE Brasil, sediada no Rio de Janeiro, participa ativamente dos debates sobre a implantação da TV digital no Brasil.

Ele critica especialmente a ênfase excessiva que se dá à discussão sobre o modelo de TV digital que seria melhor para o Brasil - há três padrões, atualmente, em escolha: o americano, o europeu e o japonês, cada modelo com pontos fortes e pontos fracos. O que importa, na opinião de Takahashi, é saber onde se quer chegar com esse novo tipo de televisão.

Takahashi explica que a TV digital é uma tecnologia que pode reunir várias outras: pode funcionar como uma TV comum, transmitindo programas, pode ser usada para entrar na internet ou para transmitir ligações de telefone, inclusive celulares.

O desafio de juntar essas tecnologias, diz ele, tem a ver com o marco regulatório - um conjunto de leis que organizem o funcionamento, na prática, de todos os setores envolvidos. Leia abaixo a entrevista em que ele expõe seus pontos de vista sobre o assunto.

Agência Brasil: Por que o senhor diz que o debate sobre a TV digital está fora de foco?

Tadao Takahashi: Esse negócio de televisão digital, para o cidadão, é o sintoma mais visível de todo esse assunto de convergência tecnológica, onde se junta a internet, a televisão, o celular e assim por diante. Então não é muito surpreendente que chame muito a atenção das pessoas. Mas tem vários aspectos. O grande problema para um país como o Brasil tem a ver e começa com o marco regulatório.

ABr: Como assim?

Takahashi: O marco regulatório deriva de uma visão política sobre o processo, e nada disso tem sido discutido pra valer. Se a gente não souber exatamente qual é o marco regulatório que a gente quer, tem conseqüências. Por exemplo, discutir se você quer exportar aparelho de televisão ou não, isso tem a ver com a política industrial. E saber se você vai priorizar a televisão de padrão normal em relação à televisão de alta definição, isso tem a ver com o marco regulatório. Então, me espanta um pouco que esse alarido todo exista. Primeiro, deveria haver uma conversa técnica. Segundo, o lado que não é técnico, é extremamente político, e tem a ver com o marco regulatório, a gente não vê discutido.

ABr: Ou seja, a TV digital pode ter diversos usos, e é preciso ter uma prioridade, que tipo de uso é mais interessante para o país.

Takahashi: É. Por exemplo, um pedaço de fibra ótica transmite um sinal que tanto pode ser um pedaço de uma conversa telefônica, como pode ser um programa de televisão. Então o marco regulatório teria de partir de uma visão geral e, a partir daí, definir grande diretrizes. Por exemplo, se a gente realmente quer que televisão digital seja um veículo de inclusão social, é uma coisa. Vai ser totalmente diferente se a gente simplesmente quer que televisão no Brasil possa ser comparável com o cinema - e quem puder paga por isso. Então, o marco regulatório é importante, mas ele emana de uma certa visão do que você quer para o país, que eu não vejo discutida em nível nenhum.

ABr: É verdade que a TV digital tem um limite - não se pode ter uma infinidade de canais, por exemplo? E é correto dizer que quanto mais alta a resolução menos canais e menos usos a TV digital pode ter?

Takahashi: Sim: quanto maior a definição, maior a banda que você ocupa no espectro [o espaço total disponível para fazer transmissões]. E quanto maior a banda, menos concessões ou outorgas você pode fazer. Significa que menos empresas podem entrar para produzir conteúdos e difundir conteúdos na teve aberta. Então, se a pessoa for olhar do ponto de vista estrito de permitir que mais players [participantes] entrem no negócio de produção e de difusão de conteúdos, fica mais importante você economizar espectro do que priorizar a máxima definição.

ABr: E como se enfrenta essa situação?

Takahashi: Imagina, por exemplo, que você vai transmitir quatro programas com a definição só um pouco melhor que a atual, para que o cidadão que tem um aparelho de televisão comum poder pegar com um conversor. É que a alta definição é socialmente perversa, porque você, no fundo, está incentivando o cara a comprar um novo aparelho de televisão, como se o dele não servisse para a TV digital.

ABr: A imagem de uma televisão comum poderia ser melhorada com um processo digital de produção?

Takahashi: Se você digitalizar [o processo], já elimina todo aquele negócio de pé-de-galinha, de tremor. Essa coisa toda, é só digitalizar que já desaparece. Na prática, precisa explorar as duas coisas, a alta definição e também a definição normal. O grande problema é que as empresas de televisão acham que vai ter muito mais custo para menos retorno, então, para elas, é muito mais negócio ter uma televisão analógica, como as de hoje, com sinal aberto, e uma de altíssima definição, com canal aberto também, que será usada para grandes ocasiões, tipo Copa do mundo ou algo assim.

ABr: A definição do governo sobre o modelo de TV digital deveria ter saído em janeiro e ainda não saiu. O senhor acha que deve demorar?

Takahashi: Acho que houve uma certa queixa em relação a como o ministro das Comunicações [Hélio Costa] vinha encaminhando a questão. Acho que o lado positivo é ele ter uma certa pressa em resolver a questão. O lado negativo é a consulta ao próprio conselho que ele tem no grupo do sistema. A coisa mais perigosa nessa coisa toda é fixar uma data para iniciar a transmissão, porque você precipita algumas decisões em função de quem topa fazer a tal inauguração para você.

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