Fica atacada, cheia de vontades, tem o olho maior que a boca, tudo o que vê quer pra si, e se não consegue se coloca raivosa odiando as pessoas que admira e tem inveja. É capaz de amaldiçoar, maldizer, mentir, inventar, exagerar, faz de tudo para conseguir o que quer ou pensa querer. Bicha é fogo, atacada é pior ainda. Por isso as mães quando percebem os sintomas, logo levam ao médico e os exames é só para confirmar: Ascarídeo – Espécies dos Ascarídeos, família de animais nematelnintos, nematódeos, fasmídeos, da ordem Rhabditida, subordem Ascaridina, grande porte, boca trilabiada, esôfago claviforme, macho com dois espículos, ovos elipsóides de casca espessa, não tem ventrículo no esôfago, nem divertículo intestinal. Conclusão? A criança está com bicha ou lombriga se quer dizer assim. Apesar do desconforto, a expressão “Tá com a bicha”, é largamente utilizada por este Brasil afora. Tem muita gente que, mesmo adulto, continua alimentando a bicha. Falam com a maior naturalidade: dá esse pedacinho para mim e aquele pedação é pra minha bicha, hoje ela está atacada! Muitos ainda dão nomes para as suas bichas: - Lili? Não é um nome muito dengoso para uma bicha que te faz mal? - Que nada. É o nome que ela merece. Por causa dela já ganhei duas calças Lee, por isso ficou Lili. - Essa não entendi! - Muito simples. As duas vezes apostei que era bicha com o médico novo lá do bairro e ele não acreditou, fez os exames e não deu outra, era bicha. Outro nome da bicha é solitária, que é diferente da lombriga. É um animal trematódeo, cestóide, especialmente os tenióideos, cujo corpo em forma de fita é dividido em anéis ou proglotes com cabeça ou escolex provida de ventosas ou ganchos. São parasitos do intestinos dos vertebrados. As solitárias mais notadas pelo povo são as grandes que do mesmo jeito recebe nomes carinhosos. - Single? Não podia ser um nome em português? - Minha solitária já concorreu ao Guinness Book e recebeu o nome de the single. Para o povão que não está acostumado com tantas explicações, é tudo bicha mesmo.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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