As cidades, como as pessoas, têm seu destino, sua vocação, sua marca peculiar, os adjetivos que lhe dão personalidade própria. São Paulo é a cidade do trabalho, da vanguarda (foi onde ocorreu a famosa Semana da Arte Moderna), e como se esquecer que nas águas do Ipiranga, o arrojado Pedro I proclamou a Independência do Brasil? A cidade não tem praia, nem as tão cantadas belezas naturais de tantos outros municípios do País, mas - a gente não sabe nunca explicar essas coisas - é a cidade que mais atraiu brasileiros, acolhendo de braço aberto não apenas os migrantes do Brasil, como também os imigrantes de todas as nacionalidades do mundo. Está colocada, certamente, como uma das mais cosmopolitas cidades do planeta, ainda conhecida mundialmente por possuir um dos melhores serviços de gastronomia. Até mesmo o primeiro beato brasileiro se fez em São Paulo, o nosso querido Frei Galvão, que brevemente deverá ser canonizado pelo Vaticano como o primeiro santo nascido em nosso País.

Encontra-se tudo em São Paulo. A cidade é exuberante em possibilidades, oportunidades, na oferta de serviços, em escolas, postos de Saúde, hospitais, casas de lazer, poderia ser a cidade dos sonhos, mas não é. É talvez a cidade que mais problemas tem, sob muitos aspectos, a começar pela desigualdade da renda, por áreas em que estão, lado a lado, a miséria e a opulência, cuja insegurança é o item que mais preocupa os governantes. Mas vamos percebendo lentas mudanças, e para melhor, em nossa cidade. Temos a impressão de que, aos poucos, governantes e sociedade, vão encontrando meios de resolver, aqui e ali, os graves e complexos problemas desta imensa megalópole. Um deles, dizia-se, nos anos 80, é que São Paulo cresceu demais, tinha de parar. Já não valia mais o lema: "A cidade não pode parar". Foi a experiência de São Paulo, que levou muitos outros municípios de médio porte, a adotarem planos diretores que evitassem o crescimento desordenado, enfim, que se buscasse o que chamamos hoje de "desenvolvimento sustentável".

Houve um tempo, lá pelos anos 90, que ficamos meio sem saber como fazer para corrigir as aberrações e exageros do crescimento de São Paulo. Parecia que a cidade não tinha mais jeito. Muitos começaram seriamente em ir para o interior, em busca de condições de vida mais humanas, onde fosse possível uma convivência pessoal e ambiental menos agressiva. E São Paulo continuou - como ainda hoje - a receber turistas, empresários, homens e mulheres de negócio, novos migrantes e imigrantes, onde governantes e sociedade buscaram estudar meios de revitalizar o centro da cidade, abrir novas linhas do metrô, o rio Tietê está sendo - mesmo que muito lentamente - recuperado; enfim, encontrar soluções inteligentes para o atendimento das demandas paulistanas, e vamos percebendo algum resultado.

A cidade está melhorando, vemos que muitas iniciativas tomadas estão surtindo efeito, pois foram medidas de médio e longo prazo, e que agora temos visto que somente assim é que viabilizaremos as soluções necessárias. E o mais importante: as pessoas estão organizadas em comunidades de bairro, associações, OnGs, empresários e profissionais liberais, igrejas e entidades, poder público e iniciativa privada, todos estão juntos nesta tarefa hercúlea de dar um novo vigor a São Paulo, uma face mais humana à gigante selva de pedra, para que as próximas gerações, vivam melhor nesta cidade que é, sem dúvida, o motor e o dínamo do Brasil.

Nota do Editor: Valmor Bolan é Doutor em Sociologia, Reitor da Universidade Guarulhos - UNG, Vice-Presidente do CRUB (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras) e Diretor Geral da Faculdade Editora Nacional - FAENAC.