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Arte e Cultura
26/12/2005 - 07h00
Iscas literárias: Moderato Cambile
Sandra Baldessin
 

Marguerite Duras me conquistou com Moderato Cantabile, o livro através do qual tomei contato com sua obra. Eu o li pela primeira vez no final da década de 70 e, recentemente, voltei a ler, agora no idioma original. Esta última leitura, confesso, acabou influenciada pela versão cinematográfica, na qual os protagonistas foram interpretados por Jeanne Moreau e Jean-Paul Belmondo.

Moderato Cantabile se tornou famoso pela proposta narrativa totalmente calcada nos diálogos e reduzindo ao máximo a presença de um narrador, característica da corrente literária "noveau roman", da qual acredito que Duras seja representante das mais significativas.

O livro aborda um tema recorrente na obra de Duras: o encontro casual e breve, profundamente sensual, entre uma mulher e um homem vindos de mundos incompatíveis, e, portanto, sem possibilidades de permanência, de concretização.

Através das personagens principais Duras explora com talento os contrastes sociais: de um lado, temos a ricaça entediada, que, mais que a si mesma e ao seu desejo, representa um nome - Desbasredes; de outro lado, temos o ex-funcionário do seu marido, agora desempregado, e cujo nome sequer é mencionado. É um sujeito invisível no universo de Anne.

No seu mundo, Anne Desbaredes exerce um papel, tem uma função, mas não existe verdadeiramente, Anne não É. Mas, no espaço de encontro com Chauvin, ambos passam a existir como uma espécie de entidade da paixão, intocável, inabalável. Aqui cabe lembrar que, na paixão revivemos o "estado narcísico" primal e a conseqüente sensação de plenitude que dele se deriva. Duras utiliza com maestria esse princípio na construção da não-história de Anne e Chauvin.

No livro, M.D. explora, também, o conceito de "lugar de pobre, lugar de rico", e, principalmente, o espaço de confluência: a rua, local onde Anne cruza com Chauvin. O Boulevard de la Mer é a ponte entre dois mundos irreconciliáveis, único espaço não interditado onde poderiam se encontrar. Duras toma esse lugar e o transforma no paraíso viável para que o imaginário floresça e o desejo se imponha sem restrições.

É preciso assinalar, ainda, que Moderato Cantabile é uma pequena obra prima de elaboração da linguagem, e esse é, sem dúvida, o maior atrativo do livro. A linguagem surge e se consolida como um elemento acima do enredo; seduz o leitor e o conduz no difícil caminho de preencher os vazios propositais do texto. Por conta desse detalhe, sou obrigada a discordar daqueles que atribuem a importância da obra ao enfoque social, a análise das relações familiares e outros motivos "úteis". A sua real importância está na forma e não na função.


Nota do Editor: Sandra Baldessin é colunista da seção Iscas Literárias do site www.lucianopires.com.br. Escritora, arte-educadora e consultora em Comunicação Escrita; realiza oficinas de formação de agentes de leitura; oficinas de criatividade e liberação de linguagens criativas com base na educação sensível; é contadora de histórias e realiza, também, oficinas de poéticas terapêuticas.

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