Arquivo CAR | |
Em 1962 meus avós paternos fizeram bodas de diamantes, 75 anos de casados, entre as festividades estava o registro fotográfico. São 99 pessoas agrupadas no palco e salão do clube social de uma pequena cidade do interior de São Paulo, chamada Itapuí. Naquela época, minha idade classificou-me entre os sentados no chão, simbolizando como ainda deveria ver todo meu mundo pela frente. Alguns bons anos já se passaram daquela foto, chego aos meus 52 anos de vida um pouco diferente daquele moleque da foto, mas continuo vendo o mundo como algo a ser alcançado. Ontem mesmo estava pensando sobre o sentido do meu trabalho e concluí que trabalho para ser substituído. Não tenho realmente a pretensão daqueles que se consideram insubstituíveis. Não quero ser trocado, eliminado, descartado ou dispensado, trabalho para ser substituído à maneira de uma eterna corrida de bastões. Devo fazer o meu trecho, nessa busca de um mundo melhor e mais solidário, com o máximo de mim, até quando chegar a hora de passar o bastão, entregar e ver meu substituto tomando distância enquanto vou parando e sendo ultrapassado por tantos outros. Permitindo que a nossa contínua busca não pare nunca, seja um somar constante do construir e do alcançar. Não sei se trago esse sentido da minha vida para o meu trabalho, ou se do trabalho levo para a minha vida, ou ainda, se existe diferença entre minha vida e meu trabalho. De repente, na madrugada, recebo a notícia que a minha sobrinha Andresa Rizzo Vincenzi morreu. Não importa a idade. Nossos filhos e sobrinhos sempre são grandes, Andresa sempre foi alegria, determinação, coragem e um invejável entusiasmo pela vida e pelas pessoas. De repente, morreu. Com certeza ela passaria por mim quando eu começasse a parar naquela corrida de bastões, ela vai fazer falta, perdemos uma grande aliada. Não sei o sentido de uma perda assim. Sei da dor que estou sentindo, sei também que "Andresas" não morrem, passam o bastão. Mancos, numa homenagem a tudo que Andresa é, seguiremos a nossa corrida.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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