Na hora de fazer uma viagem, o turista popular organiza o roteiro sozinho, em grupo ou com provedores informais, vai de ônibus, hospeda-se e alimenta-se na casa de parentes e amigos e costuma pagar todas as despesas à vista. Esse perfil do turista das Classes C, D e E está definido na pesquisa Um novo mercado para o turismo brasileiro: a viagem do trabalhador, divulgada pelo Ministério do Turismo nesta quinta-feira (8), primeiro dia do evento Diálogos do Turismo - uma Viagem de Inclusão. A pesquisa foi realizada pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam) e Data Popular, com o propósito de definir políticas públicas que garantam acesso ao mercado turístico para a população de baixa renda. O encontro Diálogos do Turismo, no Hotel San Marco, em Brasília, será aberto oficialmente às 19h30 pelo ministro Walfrido dos Mares Guia. Antes da abertura oficial foi apresentado também outro estudo do Ibam sobre Alternativas de Crédito para Pequenos Empreendimentos Turísticos. Os dois documentos são pontos de partida para os debates que serão realizados até sábado. A pesquisa ouviu 1.500 homens e mulheres acima de 18 anos de idade, em pontos de fluxo nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Goiânia. Também foram feitas oito entrevistas com turistas de 25 a 45 anos; seis com jovens de 18 a 25 anos; e seis com pessoas de terceira idade. Além disso, foram realizados grupos de discussão em São Paulo (10), Porto Alegre (5) e Belo Horizonte (5), incluindo os chamados provedores, que são as pessoas que organizam viagens de turismo para segmentos de baixa renda. Pesquisadores também fizeram viagens de observação com grupos de excursão às cidades paulistas de Aparecida do Norte, Biritiba Mirim e Ibiúna e à mineira São Lourenço. As famílias de baixa renda gastaram R$ 3,8 bilhões com viagens em 2003, sendo que a maior parte se concentra na classe C, que gastou R$ 1,5 bilhão, segundo informa a pesquisa. A escolha do destino turístico atende, geralmente, a duas finalidades: reavivar laços de amizade e parentesco; proporcionar lazer associado ao turismo. Dos pesquisados, 46% viajam para passear e descansar e 34% viajam para visitar a família. Pacotes informais - Os pacotes turísticos são organizados de maneira informal entre amigos e por pessoas do bairro, sendo recorrentes as excursões de curta duração no formato "bate e volta" - de um dia apenas - para festividades religiosas, shows e futebol. As praias também são roteiros escolhidos pelo turista popular. O ônibus é o transporte escolhido pela maioria (64%), seguido de carro próprio, carona com amigo ou parente e vans. Apenas 3% dos pesquisados viajam de avião. As viagens são feitas para lugares dentro do próprio estado (67,7%). E a grande maioria - acima de 80% - viaja para um único lugar e volta. O turista popular se hospeda na casa de amigos e parentes, aliando a vontade de viajar com a possibilidade de realizar esse desejo diante de um orçamento restrito. 62% se hospedam com parentes e amigos, 16% em hotel, pousada e pensão, mas há também os que ficam no próprio ônibus ou barracas (7%). E 61% se alimentam nas casas em que se hospedam; 23% em restaurantes, bares ou lanchonetes. Os gastos médios variam de acordo com a distância e o número de dias, entre R$ 118,18 e R$ 838,11. Mas 92% das viagens realizadas por pessoas de baixa renda são pagas à vista. De acordo com os pesquisadores, isso evidencia a completa ausência de mecanismos institucionais públicos ou privados que viabilizem o consumo turístico nesses segmentos de renda. Segundo eles, existe mercado potencial para pacotes turísticos de baixo custo. Acesso - A pesquisa revela, ainda, que os que organizam o turismo de baixa renda atuam informalmente, desconhecem o universo turístico, não têm acesso a informações e têm restrições financeiras para formalizar o negócio. Por isso, segurem que os negócios desses pequenos provedores sejam formalizados e que eles possam ter acesso à formação técnica ou universitária e fazer parcerias com as grandes empresas do setor. Os pesquisados também sugerem a criação de pacotes turísticos voltados para o turismo popular, com acesso a linhas de crédito específicas junto a bancos que têm foco no público de baixa renda, como Banco Popular, Caixa Aqui, Banco do Nordeste, Banco Postal ou organizações não governamentais que operam com microcrédito.
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