Luiz Roberto de Moura | |
Tive que parar de escrever o livro "O falar caiçara" para permitir a publicação. Foi exatamente assim. Não dava vontade de parar. A cada dia que abria o arquivo para revisar encontrava novas palavras para acrescentar em cada verbete, se não tomasse a decisão de parar estaria escrevendo até hoje. Pirangueiro foi uma palavra insistida pelo Conrado Becker, todo dia ele me perguntava se já havia escrito e só descansou depois que conferiu o verbete publicado. Na Ubatuba do tempo que o Eduardo Souza ia à praia, pirangueiro eram os moradores de Taubaté que desciam para tomar uma cor no litoral. Naquela época nem o Eduardo Souza nem o Luiz Moura se preocupavam com o buraco de ozônio e todo mundo fazia bronzeadores caseiros para pegar aquele vermelhidão que depois de adquirido não deixava ninguém dormir por uma semana e descamava feito cobra em quinze dias. Vermelhidão queimado de sol era sinônimo de fim de semana no litoral, coisa de gente chic. Em Ubatuba eram pirangueiros (do tupi piranga: vermelho + eiro= profissão ou viver de.) Esse que o Luiz Moura fotografou no Itaguá não chega a ser um pirangueiro, me lembrei da história por causa do nariz vermelho. As aves são os únicos animais que estão em todo e qualquer ambiente do planeta Terra. Não existe um só lugar, do mais frio ao mais quente, do nível do mar ao pico do Everest que não tenha pelo menos uma espécie das aves. Por isso não é estranho encontrar um falconídeo descansado nas areias das praias. Este aí é o Polyborus plancus, Crested caracará ou o carcará da Maria Bethânia. Lembra? Do pega! Mata! E come!? Pois a característica que diferencia os falconídeos dos accipitrideos é esta, eles não se alimentam de carnes putrefatas. Quando canta, ou emite a sua voz, inclina a cabeça para trás igual a um gargarejo e emite o som onomatopéico do seu nome. O Julinho Mendes sabe imitar direitinho, pena que O Guaruçá não tenha vídeo. De qualquer forma, encontrar um bicho desse na praia chama a atenção seja pelo tamanho, que pode chegar até 60 cm (do tamanho de um urubu) seja pela beleza da sua plumagem (bem diferente de um urubu).
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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