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COLUNISTA
Carlos Rizzo
11/11/2005 - 17h00
Dos primeiros observadores deste Brasil
 
 
 
Arquivo 
  Selo.

Abaixo reproduzo parte do texto de Pêro de Magalhães Gândavo e o resumo do capítulo que ele fala dos pássaros no Brasil de 1500. O interessante desses textos antigos é constatar que apesar da falta de informação científica a preocupação com o registro do fato era o mais importante. Quando leio textos assim fico a imaginar o que pensarão dos nossos textos científicos daqui a quinhentos anos. O português corrente na época é muitas das vezes cansativo de se ler, por isso separei e resumi a parte que fala dos pássaros. Apesar da fácil discrepância que qualquer um pode notar, a "APROVAÇAM" com que se inicia, demonstra que nem tudo mudou nesta terra brasilis. O arquivo completo está no link para quem se dispor, na minha opinião é muito interessante.

História da Província de Santa Cruz
Pêro de Magalhães Gândavo
APROVAÇAM

Li a presente obra de Pero de Magalhães, por mandado dos Senhores do Conselho geral da Inquiziçam, e nam tem cousa que seja contra nossa Santa Fee catholica, nem os bons costumes, antes muitas, muito pera ler, oje dez de Novembro de 1575.-- Francisco de Gouvea.
Vista a informaçam pode-se imprimir, e torne o proprio com hum dos impressos a esta Mesa: e este despacho se imprimirá no principio do Livro com a dita informaçam. Em Evora a dez de Novembro.-- Manoel Antunes Secretario do Conselho geral do Santo Officio da Inquisiçam o fez de 1575 anos.-- Lião Anriques.-- Manoel dos Coadros.
CAPITULO I
DE COMO SE DESCOBRIO ESTA PROVINCIA, E A RAZAM POR QUE SE DEVE CHAMAR SANTA CRUZ E NÃO BRASIL
CAPÍTULO II
EM QUE SE DESCREVE O SITIO E QUALIDADES DESTA PROVINCIA
CAPÍTUL O III
DAS CAPITANIAS E POVOAÇÕES DE PORTUGUEZES QUE HA NESTA PROVINCIA
CAPÍTULO IV
DA GOVERNANÇA QUE OS MORADORES DESTAS CAPITANIAS TEM NESTAS PARTES E A MANEIRA DE COMO SE HÃO EM SEU MODO DE VIVER
CAPÍTULO V
DAS PLANTAS, MANTIMENTOS E FRUITAS QUE HA NESTA PROVINCIA
CAPITULO VI
DOS ANIMAES E BICHOS VENENOSOS QUE HA NESTA PROVINCIA
CAPITULO VII
DAS AVES QUE HA NESTA PROVINCIA
CAPITULO VIII
DE ALGUNS PEIXES NOTAVEIS, BALÉAS E AMBAR QUE HA NESTAS PARTES
CAPÍTULO IX
DO MONSTRO MARINHO QUE SE MATOU NA CAPITANIA DE SAM VICENTE, ANNO 1564
CAPÍTULO X
DO GENTIO QUE HA NESTA PROVINCIA, DA CONDIÇÃO E COSTUMES DELLE, E DE COMO SE GOVERNAM NA PAZ
CAPÍTULO XI
DAS GUERRAS QUE TEM HUNS COM OUTROS E A MANEIRA COM QUE SE HÃO NELLAS
CAPÍTULO XII
DA MORTE QUE DÃO AOS CATIVOS E CRUELDADE QUE USAM COM ELLES
CAPÍTULO XIII
DO FRUITO QUE FAZEM NESTAS PARTES OS PADRES DA COMPANHIA COM SUA DOCTRINA
CAPÍTULO XIV
DAS GRANDES RIQUEZAS QUE SE ESPERAM DA TERRA DO SERTÃO

CAPITULO VII
DAS AVES QUE HA NESTA PROVINCIA
Entre todas as cousas de que na presente historia se pode fazer mençam, a que mais aprazivel e fermosa se offerece á vista humana he a grande variedade das finas e alegres cores das muitas aves que nesta Provincia se crião, as quaes por serem tam diversas em tanta quantidade, nam tratarei senam somente daquellas de que se pode notar alguma cousa e que na terra mais estimadas dos Portuguezes e Indios que habitão estas partes.
Ha nesta Provincia muitas aves de rapina mui fermosas e de varias castas, convem a saber, Aguias, Açores, e Gaviões, e outras doutros generos diversos, e cores differentes, que tambem têm a mesma propriedade. As Aguias sam mui grandes e forçosas, e assi remetem com tanta furia a gualquer ave, ou animal que querem prear, que ás vezes acontece nestas virem algumas tam desatinadas seguindo a preza que marrão nas casas dos moradores, ali caem à vista da gente sem mais se poderem leventar. Os Indios da terra as costumão tomar em seus ninhos quando são pequenas e crião-nas em umas sorças para depois de grandes se aproveitarem das pennas em suas galanterias acostumadas.
As outras aves que na terra se comem, e de que os moradores se aproveitam sam as seguintes:
Ha um certo genero dellas, a que chamam Macucocagoàs, que sam pretas, e maiores que galinhas: as quaes têm tres ordens de titellas, sam mui gordas e tenras, e assi os moradores as têm em muita estima: porque sam ellas muito sabrosas, e mais que outras algumas que entre nós se comam.
Ha tambem na terra muitas perdizes, pombas e rolas como as deste Reino, e muitos patos e adens bravas pelas lagoas e rios desta costa, e outras muitas aves de differentes castas que nam sam menos sabrosas e sadías que as melhores que cá entre nós se comem, e tem mais estima.
Papagaios ha nestas partes muitos de diversas castas e mui fermosos, como cà se vêm alguns por experiencia. Os melhores de todos, e que mais raramente se acham na terra, sam huns grandes maiores que açores a que chamam Anapurús. Estes papagaios sam variados de muitas cores, e criam-se muito longe pelo sertão dentro, e depois que os tomam, vêm a ser tam domesticos, que põem ovos em casa e acomodam -se mais à conversaçam da gente que outra qualquer ave que haja por mais domestica e mansa que seja. E por isso sam tidos na terra em tanta estima que val cada hum entre os Indios dous, tres escravos. E assi os Portuguézes que os alcançam os tem na mesma estima: porque sam elles alem disso muito bellos, e vestidos como digo de cores mui alegres e tam finas, que excedem na fermosura a todas quantas aves ha nestas partes.
Tambem se acham outros do mesmo tamanho pelo sertão dentro a que chamam Aráras os quaes sam vermelhos semeados de algumas pennas amarellas, e tem as azas azues, e hum rabo muito comprido e fermoso. Os outros mais pequenos, que mais facilmente falam e melhor de todos, sam aquelles a que na terra commummente chamam papagaios verdadeiros: os quaes trazem os Indios do sertão a vender aos Portuguezes a troco de resgates.
Algumas aves notaveis ha tambem nestas partes, a fora estas que tenho referido, de que tambem farei mençam e em especial tratarei logo de humas maritimas a que chamam Goarás, as quaes seram pouco mais ou menos do tamanho de gaivotas. A primeira penna de que a nature as veste, he branca sem nenhuma mistura mui fina em extremo. E por espaço de dous annos pouco mais ou menos a mudam, e torna-lhes a nascer outra parda tambem muito fina sem outra nenhuma mistura; e pelo mesmo tempo adiante a tornam a mudar, e ficam vestidas de huma muito preto distincta de toda outra cor. Depois dahi a certo tempo pelo conseguinte a mudam e tornam-se a cobrir doutra mui vermelha, e tanto, como o mais fino e puro cramesim que no mundo se pode ver e nesta acabam seus dias.
Doutras infinitas aves que ha nestas partes, a que a natureza vestio de muitas e mui finas côres, podera tambem aqui fazer mencam, mas como meu intento principal nam foi na presente historia senam ser breve e fugir de cousas em que podesse ser notado de prolixo dos poucos curiosos, (como já tenho dito), quiz sómente particularizar estas mais notaveis e passar com silencio por todas as outras, de que se deve fazer menos caso.

Fonte:
GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil; História da Província Santa Cruz, Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.
Texto proveniente de:
A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro
A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo.


Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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