Carlos Rizzo | |
Julinho Mendes chegou correndo e desesperado: - Rizzo! É urgente! Corre lá na praça da Matriz que tem um passarinho que há muito tempo eu não vejo! - Que é isso Julinho. Que desespero é esse? - Vai lá Rizzo, é sério, faz uns vinte anos que eu não via esse passarinho, é um urutau! Ta pousado no holofote da igreja. Vamos lá! Tanto espanto não era por pouca razão. O tal do urutau estava lá mesmo, pousadinho no holofote. Coisa rara. O normal é ele viver nos campos abertos e se mimetizar com galhos secos, a ponto de ser quase impossível a gente distinguir. - É isso mesmo Rizzo. No pasto ele fica pousado nos moirões, ele se mistura de tal maneira que a gente nem percebe onde acaba o pau onde começa o urutau. - Calma Julinho. Disfarça esse entusiasmo que já ta pegando mal. Começamos a fotografar, e isso foi chamando atenção de todos que passavam por lá. Incrível a quantidade de pessoas que estavam vendo o urutau do Julinho pela primeira vez. O tal do urutau impávido acompanhava a distância dos curiosos por uma frestinha dos olhos. É um pássaro notívago e a luz do dia afeta a sua visão, só bateria asas se realmente se sentisse ameaçado. Ou alguém botar a mão. - No meu urutau ninguém põe a mão! Esbravejou o Julinho. - Fica tranqüilo que ninguém vai botar a mão, o Luiz Roberto não está por perto. Fomos embora com a promessa do João Teixeira Leite que, até escurecer, ficaria vigiando para que ninguém mexesse no urutau do Julinho. Ia me esquecendo. O João prometeu que ia chamar o Eduardo Souza para ele vir conferir se o tal do urutau não era o Minchollus erectus praianus que há muito tempo ele não ouve cantar.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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