Caracterização sócio-econômica de favelas pode ser feita com método ágil e barato. É possível traçar o panorama dessas comunidades com fotos fornecidas pelo Inpe e dados do IBGE sobre essa população seguidos de alguns complementos Há algumas décadas, principalmente durante o período da ditadura, a prática usual para resolver a questão das favelas era remover seus habitantes para um conjunto habitacional em uma outra região. Atualmente, a opção pela urbanização vem se mostrando uma melhor alternativa. No entanto, essa solução exige maior conhecimento sobre a população alvo, e o modelo de levantamento dessas informações mais praticado até então é muito dispendioso (tem custo elevado e é trabalhoso). Num estudo recente realizado na Escola Politécnica (Poli) da USP, o engenheiro Waldemar Bon sugere uma "metodologia de baixo custo, relativamente ágil, baseada em informações públicas". "Para planejar a reurbanização de uma favela é necessário coletar uma série de dados que tracem o perfil de sua população, a fim de fazer um planejamento que se apresente eficaz", defende o engenheiro, que apresentou seu estudo de mestrado Poli. Entre as informações necessárias estão o número de domicílios, quem são os chefes de família, renda, escolaridade, sexo, idade, atendimento de serviços públicos de água e esgoto, entre outros itens. No município de São Paulo, o levantamento destes dados tem sido feito principalmente com pesquisa de campo - recenseadores vão às residências. Esse modelo foi utilizado no Estudo das Favelas (1974), no Censo das Favelas (1987), no Levantamento Amostral (1993) e em parte pelo Estimativas de população (2003). "É um procedimento muito caro e demorado, é o mesmo usado pelo IBGE - que por tais razões só realiza o censo a cada dez anos", comenta Bon. O pesquisador sugere a utilização dos dados do recenseamento do IBGE, que são gratuitos e facilmente acessíveis. "Mas muitos ainda se recusam a aproveitá-los por apresentarem deficiências que dificultam a precisão da análise". Uma das falhas apontadas é o fato de o instituto não classificar como "setor sub-normal" favelas com menos de 50 domicílios, ignorando-as para a contagem desse universo. Outro defeito citado é o uso de croquis (desenhos artísticos) na cartografia das regiões, ao invés de fotografia, o que gera distorções de área e impedem a rigorosidade e precisão da representação. Complementações ao IBGE Entretanto, Bon propõe complementações para essas lacunas: em substituição aos croquis é possível conseguir fotos de satélite com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que poderia disponibilizar o material gratuitamente. Por meio das fotografias seria possível saber a área das favelas não levantadas pelo IBGE. Ele propõe também uma metodologia para estimar a densidade populacional. "Sabe-se que a densidade populacional do setor sub-normal é de 300 a 1.500 habitantes por hectare (enquanto em áreas normais é de 30 hab/ha). Poderíamos, então, multiplicar a área pela densidade e obter a população não levantada pelo IBGE", afirma o engenheiro. Tendo como alvo de estudo a região do Rio Pequeno (bairro na Zona Oeste de São Paulo), Bon chegou a outra conclusão: quando considerados no universo das favelas, os aglomerados subnormais não alteram muito a contagem populacional. Embora sejam numerosos, são diminutos em área e possuem populações pouco numerosas. O trabalho estimou em 972 mil habitantes a população favelada total de São Paulo em 2000, diferindo em apenas 8,3% dos 897 mil levantados pelo IBGE para a mesma época. Segundo Bon, a diferença de precisão é mínima e não prejudicaria o planejamento de atuação nessas áreas. A metodologia que propõe seria de baixo custo e indireta, passível de ser realizada com intervalos mais curtos, como a cada cinco anos. Enquanto os métodos mais utilizados são diretos e caros. A pesquisa do engenheiro foi toda feita com dados públicos. Uma análise da viabilidade do estudo já foi solicitada pelos técnicos da Secretaria de Habitação da Prefeitura de São Paulo.
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