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COLUNISTA
Carlos Rizzo
13/10/2005 - 10h21
Nem sim, nem não, muito pelo contrário
 
 

Acreditar que a arma de fogo foi a invenção mais terrível e destruidora que o homem inventou é o mesmo que acreditar em bicho-papão. Acreditar que o desarmamento dos honestos que compraram as suas armas com NF e em loja estabelecida vai diminuir a violência, é o mesmo que acreditar em bicho-papão a galope na mula-sem-cabeça. Aliás, isso me lembra o lula-sem-cabeça, esse existe e é verdadeiro.

Revólver, canhão, metralhadora, bomba atômica são simples instrumentos. Sozinhos e abandonados num canto, não fazem nenhum mal a ninguém.

No primeiro crime de morte, Caim não precisou de nada além da inveja e uma pedra para matar o seu irmão. A luxúria serviu para Salomé a cabeça de João Batista numa bandeja. O poder dizimou centenas de crianças na ilusão de impedir o surgimento do menino Jesus. A igreja impeliu milhares de crentes à morte e à matança de milhares muçulmanos nas cruzadas em busca do Graal. Em nome de Deus, Allah, Buda, Maomé já se matou e vamos continuar vendo milhares de mortes todos os dias. O dinheiro e o poder mata muito mais do que qualquer arma que se inventou ou que venha a se inventar.

Em nome da prepotência Bush atrasou o entendimento da tragédia provocada pelo Katrina e provocou milhares de mortes.

A omissão dos governantes mata de fome milhares de pessoas. A corrupção condena diariamente nossos jovens à pior das mortes que é viver sem futuro e sem esperança.

Carro mata, motocicleta mata, bicicleta mata, uma pedra mata, um lenço mata, tudo pode matar. O problema não é o instrumento, é quem usa o instrumento.

O cidadão comum e sem preparo passou a usar arma porque o Estado não lhe deu segurança e tranqüilidade para trabalhar e formar os seus filhos. O cidadão comum passou a pensar que a arma lhe dava segurança e poder porque o Estado não lhe dá dignidade e futuro.

Como podemos pensar em desarmamento se o nosso presidente publicamente dispensa a escola e a formação acadêmica em seus discursos? Não posso votar a favor de um presidente que tripudia um faxineiro que devolveu uma bolsa com 10 mil dólares e elogia um bandido igual o José Rainha. Não posso votar a favor de um presidente que prometeu 10 milhões de empregos e nos deu 160 milhões de desenganados, um presidente que declara publicamente que é solidário aos corruptos do seu partido e se diz ético como ninguém nesse país.

Eu acredito em lula-sem-cabeça, esse me dá medo.


Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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