Se você procurar uma imagem que retrate “austeridade” no Google, vai encontrar uma assustadora montanha de charges e mensagens, ditos e piadas depreciando essa virtude. Praticamente nada a favor! Vejam o estrago político que o corporativismo, o patrimonialismo e a manipulação das mentes produziram! Há um governo, ou coisa que o pareça, se formando em Brasília, com fila de embarque, e todos querendo dinheiro para gastar... Pensando a respeito, lembrei-me de dois fatos. Um deles é frequentemente mencionado. Do outro, poucos tomaram conhecimento e eu tive o privilégio de testemunhar. Quando o general Castelo Branco era presidente, havia um projeto estacionado no governo aguardando decisão que beneficiaria a categoria funcional a que pertencia um irmão seu. Decidido o caso de modo favorável, os colegas cotizaram-se e o presentearam com um automóvel Aero Willys, em recompensa pelos supostos esforços que teria feito para obter do presidente a decisão que agradou a todos. O assunto chegou ao conhecimento de Castelo Branco que chamou o irmão e o mandou devolver o veículo. Ante a recusa, o presidente o demitiu no ato, advertindo que restava decidir, apenas, se o mandava prender ou não. Do outro fato, sou testemunha pessoal. Aconteceu pouco tempo depois e há, também, um Aero Willys na história. Eu tinha meus 23 anos, estava terminando o curso de Arquitetura e Urbanismo e trabalhava, às tardes, como oficial de gabinete do governador gaúcho coronel Walter Peracchi Barcelos. Certa feita, entrei no gabinete e o encontrei esbravejando. Ele tinha em mãos pedido encaminhado por dirigente de um órgão qualquer interessado em adquirir um automóvel Ford Galaxy para a própria locomoção e serviços ao seu gabinete. O Ford Galaxy, para quem não conheceu, era a nave espacial da época. Um carrão no melhor estilo das grandes “banheiras” norte-americanas de então. À frente, um imenso motor V8 4.9 cilindradas; atrás, o porta-malas parecia uma suíte. Viajava-se nele pelas antigas estradas de terra, onde tudo sacolejava, sentindo o suave balanço de um navio em alto mar. Privilégio de poucos, e o tal funcionário queria um para seu uso. “Está demitido!”, esbravejou o governador. “Imagina: eu uso um Aero Willys surrado e ele quer um Galaxy”. Eram outros homens, outros tempos. O que aconteceu de lá para cá? Não é mais possível ser austero? Os eleitores apreciam a ostentação das cortes? Se for assim, como parecem mostrar os acontecimentos destes dias, então regredimos, como sociedade, para antes das revoluções liberais dos séculos XVIII e XIX. Nota do Editor: Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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