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Crônicas
15/12/2022 - 05h54
Significância da República
Damião Ramos Cavalcanti
 

Sabendo eles que o povo preferia a República à Monarquia, os senadores derrubaram Júlio César, taxando-o de rei, no final do período republicano de Roma Antiga: “Ele quer ser rei”, contrapondo-o à figura de um chefe de Estado democrático ou comparando-o à de um líder na forma de uma monarquia arbitrária, quando a res publica, a gosto do povo, já vinha sendo fruto depurado das experiências da então vida pública romana. Pelo boato, de ouvido a ouvido, como se fosse o famigerado fake-news de hoje, tentaram desmanchar o prestígio popular de Júlio César até atingir o ódio suficiente para assassiná-lo em Sessão do Senado, tratando-o como um vil “não republicano”. Cultivaram o ódio, armaram-se e quase todos apunhalaram César, que se surpreendeu com o golpe dado pelo próprio filho adotivo: “Até tu, Brutus”?

Da histórica lição, resta-nos que alegaram como motivo da morte ele tentar deixar de ser republicano; a outra é a de que a “mentira política” é extrema e duplamente degradante, para quem a pratica e a quem é vítima dela. Depois de maquinada, divulgada aos quatro ventos, dá trabalho a ser desfeita, talvez diminuída, se a verdade contrária for imensamente maior do que a mentira propalada. Infelizmente quem a maquina chega, temporariamente, a colher proveitos. César galgou degraus do sucesso político graças aos seus propósitos populares e republicanos. Não é por menos que, nos dias de hoje, poucos bons políticos definem seus compromissos com o povo como sendo caminhos republicanos: acabar a política a serviço de um ou de uns e, a de poucos, para muitos se dedicarem a serviço de todos.

Aprende-se que a República é apurada consequência da politeia grega, dos tempos da República do filósofo Platão e definida pelo romano Cícero como desejo do povo, em conformidade com o bom senso garantido pela Justiça, como lei comum, para que se plenifique, política e republicanamente, o Bem Comum, tão dito ser a finalidade da política por Tomás de Aquino, e dever cristão, pelas encíclicas da Igreja. Por isso, não basta dizer que houve a “república romana”; que se chegou à République da Revolução Francesa; tampouco que o commonwealth idealizou o fim da tirania, proclamando democracia, direitos humanos, livre comércio sem boicotes e paz mundial; ainda, que a Republik deu fim aos reichs germânicos. Mas que, entre nós, além da sua proclamação, há vivamente a República e que seja ela nacionalmente brasileira.

A República, ora proclamada no nosso país, deveria ou deverá continuar como “república”, assim como ela seja na França, na China, nos Estados Unidos, no México, Bolívia, Venezuela, na Argentina ou na Alemanha; ou seja, naquilo que ela tem de comum, como se herdasse qualidades e características da sua origem. Contudo, conforme o relativismo cultural e instrucional de cada povo, ela sofre adulterações, distanciando-se da sua substancial definição, que é, segundo o filósofo Cícero, constituída de três elementos: o povo; interesses consensuais, como acontecessem numa comunidade; e o respeito ao direito de cada e coletivo. Quanto mais a república for representação coletiva mais será ela república. Assim, tudo dela depende muito do povo que a tem como forma de governo. Herbert Spencer a classifica como a forma política mais elevada, o que requer também, para isso, o tipo mais elevado de “natureza humana”, educada, instruída, altruísta e que se destaque, dentre as nações que se aproximaram desse nível. Por aqui, enquanto se comemora o Dia da República, verificam-se indecências políticas, ditas ou praticadas. Recordo o grande pregador Padre Antônio Vieira: “Dizem que os que governam são espelho da república; não é assim, senão ao contrário. A república é o espelho dos que a governam.”

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