Quando começou a externar opiniões sobre economia, carga tributária e gastos públicos e outros temas econômicos, já na condição de presidente eleito, Lula provocou a queda no valor das ações e o aumento simultâneo do dólar. Independente do que tenha dito, o mercado costuma agir dessa forma todas as vezes que se sente inseguro. Foge dos investimentos locais e busca abrigo sob o guarda-chuva da moeda norte-americana, balizadora da economia mundial. Um ex-ministro da Fazenda, ao ver a repercussão negativa de sua designação para compor na equipe de transição, abriu mão. Outros aliados, apesar de não terem densidade, sonham com a posição. O próprio presidente, marcado pelas desventuras dos governos anteriores, parece mais cauteloso e tende a buscar, no lugar dos companheiros de outrora, nomes que entraram no quadro atual pelo novo arco de alianças que o levaram à ganhar as eleições. É uma tarefa duplamente complicada, já que, para proteger a própria pele, terá de se livrar dos que problematizaram os mandatos anteriores e buscar novos companheiros que sejam competentes e aceitos pelo conjunto das forças que o apoiam. Há casos em que nem será se livrar dos que deram dor de cabeça, mas indicar indivíduos talhados para as funções. O Ministério da Fazenda é peça-chave. Lula não deve indicar um fiel petista sem experiência e nem um grande especialista que não tenha alguma afinidade e, principalmente, não seja ouvido e respeitado por ele próprio. É aí que surge, naturalmente, a figura do vice-presidente Geraldo Alckmin, certamente o mais experimentado dos políticos do País, que hoje forma no grupo, tanto que foi designado para pilotar o governo de transição e, salvo uma futura nomeação, estará sem função - a não ser a política que lhe é naturalmente inerente - a partir da posse do presidente, a 1º de janeiro. Alckmin tem a política no próprio sangue. É sobrinho do ex-vice-presidente da República José Maria Alckmin (no governo do presidente Castello Branco) e do ex-ministro Rodrigues Alkcmin, do STF. Seu primeiro cargo eletivo foi de vereador (onde se fez presidente da Câmara) em Pindamonhangaba/SP (1973/77), prefeito (1977/82), deputado estadual (1983/87), deputado federal (1987/95), vice-governador de São Paulo (1995/2001) e assumiu o governo quando da morte do governador Mário Covas; governador (2001/2006), (2011/2018), e, agora, vice-presidente eleito na chapa de Lula. Nos intervalos de seus mandatos de governador, concorreu à Prefeitura de São Paulo e presidência da República em 2006, quando perdeu para Lula. Em 1988 participou da fundação do PSDB e foi seu presidente paulista e em 2009 atuou como secretário de Desenvolvimento do Estado, no governo de José Serra. Mesmo com toda sua atividade política, manteve a medicina, sua profissão de fato. Além de atuar na área, é professor universitário de medicina. A experiência político-administrativa arrecada ao longo dos seus 50 anos de exercício de mandatos nas três esferas do poder - municipal, estadual e federal - e atuação no Legislativo e Executivo, fazem de Geraldo Alckmin um dos mais destacados políticos das atuais gerações, com vivência e bagagem para dirimir dúvidas e encaminhar todas as demandas, por mais diferenciadas e inesperadas que sejam. Não devemos ignorar que essa deve ter sido uma das razões que levaram o presidente Lula a escolhê-lo como vice. E, com certeza, poderá ser uma importante alavanca para torná-lo ministro da importante e fundamental pasta da Fazenda. Geraldo Alckmin ministro da Fazenda deve ser mais uma garantia de estabilidade ao próximo governo. Que Luiz Inácio pense nisso com todo zelo e interesse de acertar... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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