Uma coisa que frequentemente se confunde é o poder nominal com o poder efetivo. Se confunde três por quatro e, essa visão equivocada, deve ser extirpada de nosso horizonte para clarear o nosso entendimento. Explico-me: poder nominal seria simplesmente um cargo que dá a um sujeito uma posição de superioridade frente a sociedade. Esse é o caso de um Prefeito e, é claro, de um Presidente da República. Estes, por sua investidura, podem mandar, porém, mandar por mandar, não é poder. Já o poder efetivo não encontra-se instalado em um cargo, mas sim, diluído na sociedade, presente em inúmeras entidades, organizações e grupos formais e informais. Nestes, as ordens são obedecidas por aqueles que os integram. Resumindo a encrenca: obediência é poder. Ou, dito de outro modo: consentimento é poder. Mando, por si só, é apenas uma demonstração pífia de força que, muitas e muitas vezes, apenas sinaliza, de forma clara, uma baita fraqueza. Nesse sentido, fica claro feito uma noite enluarada, que se uma pessoa que ocupa um cargo nominal não tiver o apoio de uma rede difusa de entidades e grupos formais e informais, que lhe deem sustentação, não terá poder efetivo algum. Sim, ele poderá mandar, mandar, mandar e, no frigir dos ovos, ninguém irá obedecê-la. Tendo isso em vista, a derrota de Bolsonaro nesse pleito é apenas a consolidação de um processo que começou com a sua candidatura. Lembremos: ele não tinha, e não estava conseguindo em 2018, uma legenda para concorrer ao pleito, tamanha era a oposição que o Deep State tinha em relação a ele. Francamente, 4 anos atrás, eu imaginava que ele ficaria apenas 6 meses no cargo e, voilà! Cá estamos. E para onde vamos? Voltar para a prancheta e, como já disse noutra ocasião, fazer um exame severo do que foi feito e, principalmente, do que deixou de ser realizado, especialmente, lembrarmos que o que se convencionou chamar de “movimento conservador” tem que ser maior e mais amplo que um punhado de lideranças isoladas. Na verdade, em alguma medida já é. Falta apenas começar a tomar consciência disso, lapidar-se, organizar-se e continuar a trilhar o seu caminho que, diga-se de passagem, está apenas começando.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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