O que fazer? Eis a pergunta que muitos se fazem diante de uma situação como essa em que nos encontramos nesse momento. Bah! Dá pra fazer muita coisa meu amigo, muita coisa mesmo. Mas, antes de qualquer coisa, é imprescindível que reflitamos muito sobre aquilo que estamos nos tornando. Para explicar onde estou querendo chegar com esse causo, permitam-me contar uma pequena historieta, uma história que, certa feita, foi contada por um pobre padre anônimo do deserto. Diz-nos ele que em um reino qualquer, nem determinado momento qualquer, que se perdeu nas brumas do tempo, subiu ao trono um imperador terrível, medonho, o cão chupando manga, que perseguia sem dó os cristãos. Diante dessa encrenca de dimensões apocalípticas, esse padre dobrou os joelhos, colocou-se em oração e clamou aos céus, dizendo: "Senhor, por que nos deste um governante tão mau? Por quê Senhor?" De repente, Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, apareceu para o suplicante e lhe disse: "Meu filho, eu permiti que esse governante mau tomasse o poder, porque não encontrei ninguém pior que ele". Resumindo: o que parecia o fim do mundo, na verdade, era um convite à conversão e ao bom combate. Se essas palavras nos parecerem piedosas por demais, podemos lembrar então da advertência pontual feita pelo ímpio bigodudo, Friedrich Nietzsche, que nos diz que devemos tomar muito cuidado ao combatermos um monstro para não acabarmos nos tornando ele, pois, da mesma maneira que nós encaramos o abismo, este também nos mira com gosto e nos chama para nos atirarmos nas suas profundezas. A estrada das lutas políticas não é um caminho linear de progresso ininterrupto. Nada disso. Ela é sinuosa, pedregosa, cheia de obstáculos e acidentes. O que, a meu ver, deveria ser feito neste momento, não é nos lamentarmos feito carpideiras desesperadas, mas sim, nos indagarmos, com serenidade, sobre o que devemos mudar, o que devemos fazer e fazê-lo, porque, admitamos ou não, é isso o que temos e, em alguma medida, é isso o que merecemos.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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