Toda vez que ouvirmos alguém falar da importância do que se convencionou chamar de “pragmatismo político”, entendamos que se trata tão só e simplesmente de “oportunismo maquiavelicamente rasteiro”. Tal oportunismo seria uma das grandes permanências da política tupiniquim, infelizmente. Um bom exemplo disso foi a fala de um “cacique político” que havia sido indagado, logo após a Revolução de 1930, qual seria a posição do seu Estado frente ao golpe e este, laconicamente, respondeu: a nossa posição é a mesma de sempre, do lado do sistema. Também podemos evocar o exemplo do golpe da Proclamação da República. Até 1889 o número de republicanos em nosso país era bem pouco significativo e, logo após o fim do Segundo Reinado, e o exílio da família imperial, do nada, boleiras de monarquistas passaram a se apresentar como sendo republicanos convictos, apesar de serem apenas republicanos de última hora. Mais recentemente, em 2018, o Congresso Nacional contava com uma parcela significativa de deputados e senadores que se apresentaram durante a campanha como sendo conservadores. Confesso que, à época, isso havia me alegrado pacas. Pois é. Ledo engano de minha parte. Não demorou para muitos desses figurões e figurinhas revelarem o seu “pragmatismo”, digo, todo o seu oportunismo político. Hoje, vemos um congresso que, de forma similar, apresenta uma feição bastante conservadora, porém, algo me diz que muito dessa feição, em breve, revelar-se-á tão postiça quanto a feição de 4 anos atrás. Por essa razão que o sociólogo, não o ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso, referia-se a essa parcela significativa da classe política brasileira como “forças do atraso”. Aliás, uma alcunha mais do que apropriada para esse tipo vil de mentalidade. Naturalmente, não existe a possibilidade de equacionar esse problema em curto prazo, tendo em vista que apenas se vence algo quando este é substituído e, nesse sentido, substituir-se-á as “forças do atraso” pelo quê? Se os ditos conservadores não se preocupam em formar quadros políticos, substituir oportunistas por carreiristas é o mesmo que trocar seis por meia dúzia, não é mesmo?
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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