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Opinião
04/11/2022 - 05h43
EUA e Coreia do Norte: a eterna tensão
David Fernando Santiago Villena Del Carpio
 

A Coreia do Norte é um país singular: divide fronteiras com a China e a Rússia ao norte, ao sul, a Coreia do Sul; a oeste com a Baía da Coreia, e, por fim, ao leste, com o Japão. Com essa configuração, podemos ver que a Coreia do Norte se encontra rodeada de grandes atores e economias internacionais.

No entanto, a sua história também é singular. Após a Segunda Guerra Mundial, a antiga Coreia, que foi ocupada pelo Japão, viveu uma guerra civil entre o lado socialista do norte, apoiado pela União Soviética e China, e o capitalista do sul, apoiado pelos Estados Unidos. A Guerra da Coreia, iniciada em 1950, oficialmente não teve fim, pois só foi assinado um armistício, pelo qual ambos os lados se comprometeram a uma trégua. Dessa forma, tecnicamente, as duas Coreias ainda estão em guerra, o que nos permite entender a razão dos contínuos testes militares realizados por Pyongyang, capital da Coreia do Norte: constranger o seu vizinho do sul.

A Coreia do Norte é um dos poucos vestígios do regime socialista no mundo, sendo um dos raros países que não participa ativamente do comércio internacional, devido ao modelo de economia planejada, própria dos regimes socialistas, o que torna a sua economia, e seu regime, extremamente fechada. Por esse motivo, são poucos os dados confiáveis que se tem do regime de Pyongyang, pois não há espaço para a liberdade de imprensa, de opinião, nem para a participação política da população. Além disso, acessar a internet só é possível com uma autorização especial, e só se tem informações sobre o regime de Pyongyang por meio das fontes do governo ou de desistentes.

Esse país, que territorialmente é um pouco maior que Pernambuco e com uma população de 22 milhões de habitantes, é um desafio recorrente dentro da política norte-americana. Ainda que territorial e economicamente seja um país pequeno, o grande diferencial norte-coreano é possuir armas nucleares, fato que eles não negam. Essa capacidade nuclear é um grande dissuasor de intervenções estrangeiras na política norte-coreana: ninguém quer que aconteça no seu território o mesmo que em Hiroshima ou Nagasaki. Por isso, quando o tema é lidar com a Coreia do Norte, o assunto é espinhoso.

E afinal, por que os Estados Unidos sempre estão envolvidos quando a discussão é Coreia do Norte? Isso se deve ao fato que, como mencionado, dois grandes aliados norte-americanos na região, Japão e Coreia do Sul, são considerados alvos dos testes militares, o que obriga os Estados Unidos a prestar ajuda a esses países. No entanto, os testes militares realizados por Pyongyang não são gratuitos. Muitas vezes, eles respondem à presença norte-americana na região, como quando acontecem os exercícios militares conjuntos entre Estados Unidos e Coreia do Sul, sob o argumento de que a presença norte-americana representa uma instabilidade na região e, ainda, uma séria ameaça à sua soberania, sendo então, “obrigados” a realizar demonstrações de força.

Perante os novos testes militares, os Estados Unidos convocaram uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, exigindo maior punição ao regime de Pyongyang. Contudo, Rússia e China atuam como suportes da Coreia do Norte, afirmando que as ações de Pyongyang são uma resposta à presença norte-americana na região.

Por isso, até que Pyongyang perca esses grandes aliados, qualquer discussão vai ser inútil. A política norte-americana vai procurar outros meios fora da ONU para conter Pyongyang, o que pode se tornar uma distração em relação ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia.


Nota do Editor: David Fernando Santiago Villena Del Carpio, doutor em Direito, é professor do curso de Relações Internacionais na Universidade Positivo (UP).

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