O suicídio de Getúlio Vargas, as tentativas de golpe para impedir a posse do eleito Juscelino Kubitschek, a construção de Brasília, a renúncia de Jânio, a rejeição militar à posse de João Goulart, o parlamentarismo tupiniquim, a Revolução (depois do seu fim rebatizada Golpe de 64), a luta armada, o AI-5, a eleição de Tancredo e posse de Sarney, o Plano Real, os impeachments de Collor e Dilma, os diferentes escândalos políticos e econômicos. Desde os tempos de menino, assisti aos trancos que impactaram a vida nacional, e a solução dada a cada um deles. A eleição de Lula pode ser mais um deles, mas perfeitamente legal, previsível e democrático porquê o povo, com os seus votos, assim quis. É mais um ciclo político que se estabelece e, como nas vezes anteriores, só nos cabe torcer para que resulte no melhor ao Brasil e aos brasileiros. São inegáveis o carisma, a força e a resiliência do retirante que se fez operário e foi o primeiro trabalhador a governar o País. Mercê daquilo que construiu em cinco décadas de atuação, transitou entre o céu e o inferno e agora tem a oportunidade de dar um bom acabamento à imagem que dele restará para a História. É de se esperar que, desta vez, seja mais seletivo e cuidadoso ao trazer os que o ajudarão na tarefa de governar. Jamais dispense a experiência de companheiros - como o vice Geraldo Alckmin, que já colaborou na sua campanha de eleição e, com a extensa vida pública (vereador, prefeito, deputado estadual e federal, governador de São Paulo, fundador e dirigente partidário) - podem oferecer ideias, forças e equilíbrio ao seu governo. Alckmin, um dos mais completos políticos da atualidade, teve a grandeza de esquecer as divergências do passado e abraçou a campanha de Lula para seu retorno ao poder. Não se deve ignorar que a eleição ocorreu por pequena margem e que, mesmo derrotado, o presidente Jair Bolsonaro se mantém como importante liderança. E que o novo Congresso será mais conservador que o atual, exigindo mais respeito, cuidado e negociação do que aquele com que o futuro presidente conviveu nos seus dois mandatos. A política é dinâmica, sua composição passa pela vontade do governante e sua equipe, mas esbarra em senadores, deputados e forças da sociedade. É daí que vêm o equilíbrio e a sustentação do regime democrático. Para o bem geral da Nação, esqueçam todos os agravos de campanha. O proselitismo forte e muitas vezes enganador faz parte do quadro, mas hoje já pertence ao passado. Cuidem do presente e, se puderem, utilizem-no para construir o futuro... Numa eleição de segundo turno, um ganha e o outro perde. O que ganha fica com a tarefa de governar e seu opositor, via de regra, alinha-se à oposição fiscalizadora. Mas nenhum deve extrapolar porque, quando pediam votos, prometiam ao povo governar para o bem de todos e isso não deve mudar pelo simples fato de estar ou não investido no poder. O Brasil surgido das urnas de 30 de outubro é mais equilibrado politicamente e isso poderá ser um grande benefício para a vida nacional... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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