O velho álbum de casamento! Quem resiste? Vamos folhear! Ali estão as figuras da hora, figurando em hora tão importante: familiares, amigos, padrinhos, o velho padre alemão que tropeçava nas vogais no seu português claudicante, a pianista e sua Ave-Maria - lindíssima, aliás! À vista de cada rosto, os olhos se deleitam com os cortes de cabelo da época, as roupas coloridas que ditavam moda. Aonde andarão todos? Alguns tão sumidos, sem notícias; outros já definitivamente desaparecidos, tragados pelos umbrais do tempo. O álbum de casamento era de dar dó. A tecnologia era rudimentar; o fotógrafo, coitado, amador: escureceu o cenário, sombreou o povo, flagrou a noiva de olhos fechados, cortou a cabeça do noivo na troca das alianças, ignorou os radiantes sorrisos dos nubentes. Ah, que pena! Retratista sem coração, deixou escapar a seleção dos melhores momentos - coisa que hoje em dia certamente não aconteceria pelo profissionalismo de quem manja da arte de fotografar. Num passado de fotos raras, ter um álbum de casamento, ainda que com tantos “contratempos", era de um valor inestimável. Por outro lado, vida longa às câmeras de última geração que a cada dia se modernizam, fazendo milagres, inclusive, nos cliques em que os retratos da vida não são tão generosos.
|