Relembrar é viver, diz-nos o ditado popular e, para variar, o dito está mais do que certo. Está certíssimo. Porém, todavia e, entretanto, é importante enfatizar que o ato de lembrar exige de nós, de cada um de nós, um determinado tanto de esforço. Um grande esforço. É necessário um grande empenho de nossa parte para lembrarmos dos dias que já se foram, que a muito partiram, e que não voltam mais, tendo em vista que o ser humano tem uma forte inclinação para querer esquecer, o mais rápido possível, principalmente tudo aquilo que pode nos colocar em nosso devido lugar. Lembrar é preciso porque, no frigir dos ovos, nós nada somos sem as nossas lembranças, sem as nossas memórias. Sobre isso, basta que lembremos que, quando perguntamos para um amigo quem é Fulano, nós estamos querendo saber qual foi o caminho percorrido por ele para ser quem ele é. Ou seja: queremos ser informados sobre a sua história ou, ao menos, um cadinho dela. Nesse sentido, uma sociedade sem memória está condena a mergulhar num terrível poço de anomia, de caos e insanidade, pois, um povo que não sabe nada, ou sabe muito pouco e vagamente, a respeito das venturas e desventuras que foram vividas e sofridas pelos seus antepassados, para que chegássemos onde chegamos, não é um povo. Não, não é um povo. É apenas uma massa amorfa. Se não nos esforçamos para nos lembrar do caminho percorrido por nós, enquanto povo, nós não sabemos claramente quem nós somos e, neste estado de amnésia e orfandade histórica, acabamos nos tornando presas fáceis daqueles que se apresentam a nós para nos dizer quem somos, contando-nos qualquer lorota como se essa fosse a nossa História. Enfim, se queremos que a luz brilhe no nosso futuro, nos dias que estão por vir, é mais do que necessário, é urgente, que procuremos alumiar o nosso presente com as chamas do farol do nosso passado, para que a nossa história permaneça viva e pulsante em nosso coração. Crônica falada.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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