Existem certos ensinamentos que deveriam ser assimilados por nós ao ponto deles integrarem o nosso modo de ser. Um desses ensinamentos é aquele que nos é ministrado pelas palavras de Edgar Allan Poe, onde o mesmo nos lembra que devemos acreditar em apenas metade daquilo que vemos e, principalmente, em nada daquilo que ouvimos aqui e acolá. Essa lição, tão bem expressa pelas palavras cristalinas desse grande escritor, foi dita de outro modo, pelo velho Raul Seixas, através de uma de suas canções, onde o mesmo nos diz que não precisamos ler jornais, porque mentir sozinhos nós somos capazes. Seja através da sutileza de Edgar Allan Poe ou do jeitão bem humorado do Velho Raul, uma coisa é certa, mais do que certa, tremendamente certa: na época em que nós temos nosso acesso facilitado à informação, é justamente o tempo em que agimos de uma forma miseravelmente crédula diante de tudo aquilo que chega até nós. Posso estar enganado, mas algo me diz que quando consumimos as tranqueiras que chegam até as meninas dos nossos olhos, nós tendemos a simplesmente aceitar como “verdade incontestável” tudo aquilo que simplesmente acabe por confirmar aquilo que sentimos como sendo supostamente correto e desejável. Sejam tranqueiras na forma de imagens, vídeos curtos [o mais curto possível], memes, prints de manchetes e similares, lá estamos nós, crédulos, desde que tais traquitanas confirmem os nossos sentimentos sem, é claro, agregar valor algum ao que sentimos. O mesmo vale para quando ficamos estaqueados na frente da televisão feito uma marmota, ouvindo servilmente o que nos é apresentado pelos conglomerados de mídia. Em ambos os casos, quando estamos nos “informando”, na real, não estamos procurando ampliar a nossa compreensão com algo realmente relevante, mas apenas ansiando confirmar os nossos afetos [políticos], mesmo que isso seja um tremendo engano. Enfim, não é à toa, nem por acaso, que na dita cuja da “Era da Informação” estejamos, assim, tão desorientados.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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