Na atividade de dirigente classista, por mais de quatro décadas defendendo os interesses e o bom desenvolvimento das atividades dos policiais militares paulistas – e por extensão de todo o país – hoje consigo ver pelo retrovisor, pelo menos duas ações que realizei e fazem parte da segurança pública, atualmente impensável sem esses requisitos. As câmeras de monitoramento e o poder de polícia para as guardas municipais, antigamente restritas apenas a tomar conta do patrimônio das prefeituras. As câmeras evoluíram e agora estão até agregadas à farda (uns gostam, outros não), impedindo muitos problemas, como as fantasiosas denúncias contra policiais, que eram comuns e destruíam tantas carreiras. As guardas municipais, sob o controle direto dos prefeitos, podem ser melhor direcionadas aos pontos nevrálgicos das cidades, uma destinação impossível de se fazer nas policias estaduais, já que o Estado possui 645 municípios e o governador não pode (ou pelo menos não deve) privilegiar uns em detrimento dos outros. Ainda mais: quando a guarda local atua, desafoga a polícia estadual, que pode melhor desenvolver outras funções e melhorar a segurança geral. Hoje, com a mesma determinação e vontade de acertar, volto a um terceiro pilar, já citado algumas vezes em artigos anteriores, que penso estar na hora de se consolidar: a Vizinhança Solidária. Verdadeira forma de se integrar a polícia e a comunidade, reduzir rivalidades, minimizar a necessidade de ações repressivas e, na medida do possível, estabelecer a paz. Derivada das estruturas da Polícia Comunitária do Japão e do Policiamento Orientado para o Problema, dos Estados Unidos, trata-se da maior ferramenta em desenvolvimento da aproximação da sociedade com a Polícia Militar. A ação foi concretizada em 2009 através de um encontro entre síndicos do bairro paulistano Itaim Bibi e os policiais militares da área, para o estabelecimento de relações e troca de informações úteis à comunidade. Tornou-se ação oficial dentro da corporação, mas precisamos mais. Não obstante os esforços do seu idealizador Coronel Temístocles Telmo – que dedicou ao programa importantes anos de sua carreira e muitas horas que, por direito, poderia ter estado de folga, parece que o Estado não aplicou todo o empenho que poderia ou, até, deveria. É por isso que, numa virada de ciclo político-administrativo como a que está em curso - quando o PSDB deixará o governo do Estado após governar por três décadas – acho importante abordar o tema. O Programa Vizinhança Solidária seria utilíssimo se englobasse todos os 645, como política de governo. Esse aporte, é imprescindível e precisa ser realizado. No dia que ocorrer, aproximará positivamente os policiais e a sociedade. Lucrarão todos, da mesma forma que hoje ocorre no Itaim Bibi e na s demais comunidades onde funciona. Pelas filosofias dos programas japonês e estadunidense que lhes serviram de parâmetros, a aproximação da comunidade com a polícia faz as informações de segurança circular mais rapidamente, evita mal-entendidos e funciona como um suporte absoluto às ações policiais que visam proteger a comunidade. Isso sem falar que a simples existência dessa estrutura desencoraja a ação dos criminosos na área. Independente de posicionamento ideológico, sou de opinião que se o próximo governador, após inteirar-se, incorporar o Programa Vizinhança Solidária à sua política de segurança pública, a comunidade paulista evoluirá muito em tranquilidade e segurança e, com isso, terá melhor condição de vida social, trabalho e desenvolvimento. Fica aqui o recado de quem acompanhou de perto todos os esforços dos valorosos implantadores e pilotos dessa obra de pacificação social e comunitária. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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