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Opinião
21/10/2022 - 06h22
O atestado de óbito da procura pela verdade
Dartagnan da Silva Zanela
 

Santo Tomás de Aquino, juntamente com toda a sabedoria perene, nos ensina que o homem de um único livro é, sem dúvida alguma, um grande perigo. E complemento: tão perigoso, senão mais perigoso que um homem que não tenha lido nenhum livro.

Explico-me: uma pessoa que nunca tenha lido livro algum na vida, ao menos, tem em seu íntimo, uma razoável compreensão de que seus conhecimentos são limitados e, tal entendimento, acaba lhe dando uma certa modéstia frente a realidade.

Agora, a pessoa que tenha lido apenas um livro ou, digamos, que tenha lido um cadinho de um, um tantinho de outro e assim por diante, é uma pessoa muitíssimo perigosa porque ela tem a falsa sensação de que conhece alguma coisa com uma suposta amplitude.

E se cultivamos esse tipo de impressão em nossa alma, corremos o sério risco de nos fecharmos para o conhecimento de qualquer coisa em profundidade, ficando apegados a ninharias que apenas apequenam a nossa alma e estreitam o nosso olhar.

De certo modo é isso que acabamos fazendo conosco por meio desse culto postiço aos diplomas que podemos obter aqui e acolá. Diplomas estes que, muitas e muitas vezes, apenas os desejamos pelo valor que eles têm frente a sociedade, enquanto um instrumento que pode nos ajudar a nos colocar de uma forma melhor no mundinho em que vivemos, não pelo conhecimento que efetivamente construímos e que eles, por sua vez, deveriam atestar.

Dito de uma forma diferente, podemos dizer que o homem de um livro só, apontado por Santo Tomás de Aquino, seria similar ao indivíduo que afixou um diploma na parede, para sentir-se diferente dos demais sem, necessariamente, ter se esmerado para apartar-se da sua própria ignorância que o consome sorrateiramente todo santo dia sem que ele perceba.

Enfim, não estou dizendo que os diplomas não tem valor, longe de mim. Digo apenas que a idolatria dos mesmos não infunde sabedoria no coração de ninguém, nem nos torna pessoas melhores.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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