“O jornalismo sustenta a democracia, não com engajamentos espúrios, mas com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada e magnânima. A reportagem é, sem dúvida, o coração da mídia”. Concordo e destaco o trecho do artigo do jornalista Carlos Alberto Di Franco (Estadão 17/10 - A5), escrito na Espanha, onde o autor participa VII Encontro Internacional do Programa de Graduados Latino-Americano da Universidade de Navarra, uma das principais instituições mundiais cultoras e difusoras do jornalismo. Di Franco e tantos outros do ramo que conhecemos são críticos (alguns sagazes) da politização e principalmente da ideologização das redações. Não criticam os que fizeram sua opção por esta ou aquela posição, mas o fato de muitos deles, incautos, colocarem-na à frente dos objetivos e métodos de sua produção. Penso que nada impede um jornal, revista, rádio ou televisão ter a sua visão e até opção a política e externá-la. Mas não abro mão - nos veículos que leio, assisto ou ouço - da produção técnica e desengajada do noticiário. Quero ler a reportagem como ela é, não segundo a opinião do seu autor engajado. Seu engajamento tem de respeitar os ditames da produção informativa e, principalmente, o leitor, seu público alvo e cliente que sustenta a publicação. Na minha jornada de décadas acompanhando a política e a comunicação do meu país - algumas vezes até participando de ambas - já houve tempo em que não concordava com a linha defendida pelos veículos de comunicação que faziam parte do meu dia a dia. Cheguei a não ler a página de opinião por dela discordar. Mas isso não impedia o consumo diário das seções de notícias e reportagens, pois estas eram apenas informação, mesmo podendo trazer algum viés do pensamento dos controladores do veículo. O ideal seria que todos os veículos de comunicação mantivessem clara sua posição, para permitir que o leitor saiba as vantagens e as desvantagens do partido ou do candidato de sua preferência e, com essa informação adicional, embase melhor a sua opção. Isso deve servir tanto para a política quanto para a economia, a administração pública e todas as questões de interesse da sociedade. O jornalismo é uma fascinante profissão. Durante muito tempo, os profissionais formavam-se na própria redação. O mais novo seguia as pegadas do mais experiente e assim o meio seguia. Vieram as escolas de jornalismo que abriram um grande leque de opções para melhorar o preparo do jornalista. Mas, lamentavelmente, muitas dessas instituições foram tomadas de assalto por professores-ativistas que em vez de formar jornalistas priorizam a indevida opção de torná-los ativistas. É um fenômeno que se espalha por todas as profissões, mas se destaca entre educadores e comunicadores. Essa geração poluída, nas últimas décadas, levou as redações - e com elas o veículo de comunicação inteiro - a um beco muitas vezes sem saída. Os políticos aproveitaram para entrar sem pedir licença e muitas publicações tornaram-se seus arautos, pouco se interessando pela opinião e objetivos do seu leitor, que assina e paga as contas. Como diz Di Franco, o jornalismo precisa se reinventar. Não para castrar opiniões ou trucar carreiras. Mas para reassumir a sua importância no contexto e deixar de ser mero difusor dos interesses e opiniões de grupos ideológicos, econômicos ou sociais. O jornal, o rádio, a TV e agora a internet em suas múltiplas redes sociais e aplicativos são excelentes ferramentas. Mas não podem ser utilizados de forma pequena e seletiva. O bom veículo é aquele que mantém suas portas abertas a todas as tendências, mas não permite que uma delas assuma todo o espaço, pois isso priva as demais e ocasiona a evasão do leitor-cliente. A reinvenção que o nosso amigo e tradicional colaborador do “Estadão” coloca à mesa me parece um salto rumo à razão. Principalmente não ser porta voz de qualquer segmento, mas estar aberto, com as devidas cautelas e métodos, a todos para, assim, poder questioná-los, discutir objetivos e promover a evolução da sociedade. O objetivo deve ser o leitor e a defesa da sociedade, não de partido político, segmento ideológico, econômico ou social. Reinventem-se já. Não excluam ninguém. Reúnam todos (os segmentos) e mantenham a força do outrora chamado “quarto poder” - menor apenas que os poderes da República (Legislativo, Executivo e Judiciário), mas forte para influenciá-los... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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