Para muitos, a suprema liberdade consistiria em não termos que dar satisfação, nenhum tipo de explicação, sobre aquilo que nós decidimos fazer ou deixar de fazer. Quando jovens, creio que provavelmente todos nós já pensamos mais ou menos assim, desse jeitão. Muitos apenas pensavam, outros, em alguma medida, procuravam viver nessa toada e, por isso, com toda certeza, hoje, com o rosto marcado pelo tempo, devem ter boleiras de histórias para contar e borbotões e mais borbotões de arrependimentos pesando em seus corações. Ué! Mas ser plenamente livre não seria fazermos o que nos der na telha sem termos que nos preocupar em dar satisfação de nadica de nada para ninguém? Com certeza. Mas isso não significa que nossas ações, livremente tomadas, poderão nos eximir de assumirmos as consequências advindas delas. Essas são inescapáveis. Não tem lesco-lesco. E é aí que a porca torce o rabo, e torce bonito, porque no mundo contemporâneo, praticamente todos querem, porque querem, fazer apenas aquilo que lhes der na ventana. Sim, eu sei, dizer isso pega mal pra caramba e, por essa razão, a galerinha galerosa, ao invés de dizer que não está nem aí para as consequências de suas escolhas, imaturas e impensadas, acaba optando em dizer que apenas está procurando o seu “eu autêntico”, que “apenas deseja fazer aquilo que ama” e que, obviamente, “ninguém irá lhes impor algo que contrarie as suas convicções mais íntimas”. Todos nós, em algum momento, ouvimos alguma lengalenga similar a essa em algum lugar e, francamente, espero que nunca tenhamos caído nessa lorota politicamente corretíssima. Seja como for, reconheçamos ou não, cedo ou tarde, todos nós teremos que sentar junto à mesa para o banquete das consequências e, quanto mais demorarmos para nos sentar no lugar que está reservado para nós, mais difícil será para engolirmos tudo o que plantamos em nossa caminhada, livremente realizada e irresponsavelmente dirigida. Crônica falada.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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