Desde a infância - na primeira metade dos anos 50 - ouço falarem que a eleição é o momento mais elevado da cidadania. Que o povo, através do voto, além de escolher os governantes (presidente, governador e prefeito) e os parlamentares (senador, deputado federal e estadual e vereador), tem a oportunidade de eleger os candidatos que lhe pareçam os mais indicados para resolver os problemas do País, do Estado e do Município. E que, numa espécie de círculo virtuoso, a população viverá melhor sempre que votar bem, uma relação direta entre os que escolhe nas urnas e a qualidade do futuro comunitário. Sempre considerei a campanha eleitoral como o instrumento para os candidatos apresentarem seus currículos e propostas e o eleitor - destinatário das mensagens - conhecer os postulantes e decidir pelos que melhor encarnem os interesses da população. Porém, o desenrolar bestial da atual campanha não guarda a mínima relação com a cidadania, o interesse público e a expectativa de dias melhores que devem decorrer da disputa. No lugar de dizer o que seu cliente-candidato pretende realizar caso seja eleito, os aloprados propagandistas optaram pela deletéria ação de desconstruir o adversário. Não fazem promessas que possam motivar e até seduzir o eleitor, porque empregam seu tempo para chamar o oponente de antidemocrático, golpista, "ladrão", "mentiroso", "genocida" e outros adjetivos que dificilmente caberiam, todos ao mesmo tempo, dentro de um só indivíduo. Em vez de construir a busca dos votos sobre base sólida e positiva, a campanha é lastreada num pântano de inverdades, negativismo e mistificação. Não cumpre a finalidade de informar o eleitorado. E quem deveria fiscalizar e impedir essa criminosa pregação, parece ausente. Toda vez que critica seu oponente, o candidato deixa de fazer a sua propaganda e o eleitor fica sem saber de suas propostas. Isso sem falar que, pelos ditames da sociedade e da própria ordem democrática, a campanha deve ser propositiva e voltada para a expectativa do que ocorrerá de bom em decorrência da eleição daquele que pede o voto. É por isso que causa-me espanto ver as campanhas perdendo seu precioso tempo para falar mal do adversário. O eleitor deve procurar saber pelos arquivos dos veículos de comunicação (que estão na internet) o bom e o ruim do candidato que lhe pede o voto. Jamais aceitar sabê-lo pela ótica do oponente que, via de regra, não é correta porque carregada de interesses. Na campanha presente, em vez de amor e esperança, a pregação é de ódio. As narrativas inoculadas nas mensagens transmitidas pelo rádio, TV e internet, são indevidas. Principalmente porque temos no país um sistema eleitoral que filtra (ou deveria filtrar) os candidatos. Se o candidato é registrado e oficializado para a disputa, supõe-se que já tenha passado pelo crivo da Justiça Eleitoral. Se ele é “ladrão” ou padece de pecados criminais, políticos ou sociais que o desabonem, é problema de quem aprovou sua entrada na disputa. As ofensas são motivo de constrangimento e servem para deslustrar todo o processo e, até, seus controladores, no caso o TSE (Tribunal Superior Eleitoral, os TREs (Tribunal Regional Eleitoral) e até a Zona Eleitoral. As autoridades que homologam o registro das candidaturas são, no mínimo, avalistas morais do candidato e deveriam cuidar para que não sejam achincalhados e não achincalhem, como vem ocorrendo. Uma vez registrados, estão sob o guarda-chuva da Justiça Eleitoral que, para homologar a candidatura, deve ter verificado se o pretendente preenche os requisitos. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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