O ditado popular nos ensina que cabeça parada seria oficina do capeta e, é claro, o provérbio está corretíssimo. Todavia, é importante lembrarmos que o fato de nossa cumbuca estar parada não significa, necessariamente, que ela esteja vazia. Muito pelo contrário. Em muitíssimos casos ela está cheia, bem cheia, e esse é o grande problema. Atualmente, como todos nós estamos carecas de saber, nossa cabeça foi literalmente transformada numa grande lixeira eletrônica, tamanha é a quantidade de informações que chegam até nós. São tantas informações que, em alguma medida, nos sentimos paralisados diante dessa grandeza, sem saber o que fazer, sem saber por onde começar e, em tal situação, infelizmente, acabamos agindo, diante da avalanche de informações, de modo similar a um tonto, com um controle remoto, que fica mudando freneticamente os canais da televisão, sem parar em nenhum deles. Esse acaba sendo o nosso comportamento quando estamos navegando numa rede social, passando apressado pelas publicações, num deslizar infinito, sem fixar-se em nada por mais de trinta segundos para, como direi, não perder nada que está sendo apresentado para nós e, agindo assim, sem nos darmos conta, acabamos perdendo tudo, inclusive e principalmente, acabamos nos perdendo de nós mesmos. Por essa razão, e por inúmeras outras, seria muito interessante que procurássemos ocupar a nossa mente esvaziando-a. Isso mesmo! Esvaziá-la dessa inquietude, deste desassossego que se apodera de nossa alma e acaba por corromper nossa imaginação, tolher a nossa atenção e, é claro, termina por fazer pouco caso da nossa inteligência. Diante do que expusemos até aqui, poderíamos então atualizar o ditado popular e dizer que cabeça parada é oficina de algoritmo o que, no frigir dos ovos, acaba dando na mesma. Mas, além disso, e muito mais importante que esse gracejo sem graça, é que procuremos nos esforçar para nos tornarmos senhores de nossa vontade e escravos da nossa consciência, como bem nos ensina Humberto de Campos.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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