Ficar à toa na vida, sem se preocupar com nada, de fato é uma delícia. Realmente é muito bom. Porém, viver a vida à toa é uma tremenda perda de tempo e, sejamos francos: viver assim é algo que apenas as almas mais tediosas e insossas apreciam. Apenas almas mortas gostam de passar os seus dias, um atrás do outro, nessa vibe de barranca de rio. Aliás, passar um e outro momento à toa na vida apenas tem algum sentido, alguma valia, quando estes contrastam com uma vida preenchida com responsabilidades, com a realização de projetos, com o cumprimento de obrigações, com a doação do nosso tempo para realização de algo que seja maior que nosso umbigo. Por essa razão que a formação das crianças e jovens deveria ter como pedra de toque, a gradativa aquisição de responsabilidades, não a ludicidade perene e pretensamente pedagógica. Responsabilidades para consigo mesmo, para com a instituição de ensino e, é claro, frente a sua família e a sua comunidade. Porém, no mundo atual, quando o assunto é essa tal de educação, a palavra que mais aparece no palavreado da galera não é essa não. Não é responsabilidade. No entender dos doutos tudo deve ser lúdico para, adivinhem, que a educação torne-se mais atrativa, mais interessante, mais divertida, mesmo que isso signifique fazer o contrário da educação. E nessa parada há um terrível problema: esses trens da alegria pedagógicos, por mais fofos que pareçam, não são a coluna de sustentação de uma boa educação, mas sim, como havíamos dito anteriormente, a aquisição gradativa do senso de responsabilidade. Lembremos: um adulto responsável não é aquele que cumpre com seus deveres mais elementares porque estes lhes são apresentados pela vida de forma “lúdica” e “interessante”, mas sim, porque entende que uma pessoa responsável sabe que ela deve cumpri-los, sejam eles divertidos ou não. E o fato de termos nos esquecido desse pequeno detalhe nas últimas décadas, devido aos conselhos toscos de um montão de doutos diplomados, a nossa educação encontra-se hoje diante dessa terrível encruzilhada. Crônica falada.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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