Inquietude é o que não nos falta. Uns mais, outros menos, mas todos nós, em alguma medida, sentimos aquela comichão que não nos permite aquietar, um cadinho que seja, para nos desconectar do fluxo contínuo de informações e estímulos que recebemos todo o santo dia, das mais diversas fontes. Não precisamos consultar um especialista para sabermos que uma vida vivida nesse ritmo não é um troço bom não. É algo praticamente evidente. Somente um tonto acha isso um trem bom barbaridade. Tão evidente que até os indivíduos que vivem grudados nas redes sociais sabem disso, da mesma forma que um bebum sabe que o álcool consumido de forma desregrada lhe causa grandes malefícios, porém, “sacumé”, mesmo assim a gente não larga o osso. Indo direto ao ponto, podemos dizer que, de forma similar a situação de um dependente químico, mesmo estando cientes do mal que estamos causando a nós mesmos, não temos consciência do quão grande esse mal é e, por isso, seguimos ziguezagueando com o andor. E devido àquela dose de soberba que transborda em nosso coração, imaginamos que nós somos fortes o bastante para controlar essas forças que brotam dos nossos hábitos - pessoalmente impensados e socialmente aceitos - feito cogumelos após uma chuvarada. Imaginamos que somos mais fortes do que de fato somos, cremos ser melhores do que realmente nos esmeramos em ser e, por ignorarmos nossas fraquezas, que são num número e numa proporção muito maior do que gostaríamos de admitir, acabamos por nos entregar a costumes que, de forma sutil, vão corroendo nossa personalidade e mutilando o nosso caráter. E, de bobeira em bobeira, lá estamos nós, incapazes de parar para entregarmo-nos a leitura de um livro, inaptos para ouvir um álbum de boa música e impossibilitados para assistir um bom filme sem estarmos, a cada instante, abrindo o whatsapp, ou consultando algo similar, tamanho é o desassossego que impera em nossa alma, tão grande é a servidão em que nos encontramos e que subjuga de forma aviltante as portas da nossa percepção. Crônica falada.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
|