O fato de uma pessoa rotular os outros de machista, fascista e demais tranqueiras similares, não significa, de maneira alguma, que tais pessoas, que recebem esses rótulos infames, sejam isso ou aquilo, ou tudo isso junto e misturado. Da mesma forma, uma pessoa que faça isso, com aquela carinha fofa de indignação, não significa, necessariamente, que ela seja uma pessoa melhor do que aquelas que estão sendo rotuladas por ela dessa forma abjeta. Na real, é bem provável que uma pessoa que se entregue a esse tipo de coisa não seja, nem de longe, uma pessoa minimamente decente. Ora, uma pessoa com um mínimo de integridade, pensa duas vezes antes de condenar alguém e, sejamos bem claros: rotular qualquer pessoa com um adjetivo vil é literalmente condenar um indivíduo com requintes de sadismo. E o mais curioso é que, de um modo geral, as pessoas que frequentemente fazem isso são justamente as mesmas que vivem o tempo todo falando em empatia, cultura da paz e tutti quanti. Pois é. Justamente essas pessoas, que falam tanto disso, não são capazes de manifestar um mínimo de empatia por aqueles que, para sua infelicidade, tornam-se alvo da verve insana e engajada da turminha que se considera tão crítica quanto esclarecida. E, assim o é, porque no fundo as palavras para tais figuras tem apenas uma mera função instrumental, jamais dialogal. Para essas pessoas, as palavras não são pontes que interligam nossa alma à realidade, para que possamos ter um vislumbre mais claro da verdade, nada disso. Para esses indivíduos as palavras seriam apenas elementos retóricos para vencer uma tomada de posição numa briguinha de momento, travada em nome de um projeto totalitário de poder. Por isso, não é por acaso que os mesmos sujeitos que falam tanto em alteridade são justamente os mesmos que, garbosamente, se entregam de corpo e alma na realização de um linchamento virtual porque, para tais alminhas, tudo vale a pena, tudinho, porque em seus corações tudo, tudinho, se apequena. Crônica falada.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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